A cirurgiã-dentista Dra. Ana Estela Haddad assumiu, a convite da Ministra da Saúde Nísia Trindade, a recém-criada Secretaria de Informação e Saúde Digital. Atualmente, a paulistana coordena o Núcleo de Telessaúde e Teleodontologia da Faculdade de Odontologia da USP – Universidade de São Paulo, é membro do Comitê Assessor da Rede Universitária de Telemedicina e diretora científica da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde.
Com o objetivo de melhor entender os motivos que impulsionaram a criação desta Secretaria e discutir sobre o potencial e as perspectivas de futuro da saúde digital no país, membros do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) conversaram com a Dra. Ana Estela Haddad.
Durante a pandemia de Covid-19, as consultas odontológicas foram parcialmente suspensas, em função das normas de biossegurança vigentes. Este represamento, no entanto, foi contornado graças à teleodontologia e à saúde digital, como um todo. De acordo com a Dra. Ana Estela, a experiência pandêmica foi um divisor de águas em relação à abordagem do tema no Brasil e o fator que impulsionou a abstração da telessaúde como algo possível e necessário para a saúde pública do país.
“Eu lembro que, no começo da pandemia, durante a primeira conferência online que me chamaram pra fazer, eu olhava os comentários do chat e me dava vontade de desligar o computador, porque as pessoas estavam muito resistentes a esse tema”, contou.
Com o recorte da pandemia, no entanto, as consultas digitais passaram a mostrar o seu potencial de, mesmo à distância, levar conhecimento, autocuidado e informação aos lares em isolamento e, com isso, as conversas em relação ao tema passaram a ser recebidas com mais abertura e tranquilidade tanto pela população, quanto pelos órgãos de saúde pública.
Da urgência do Brasil por discutir as potencialidades do mundo virtual para auxiliar as profissões da saúde como um todo (inclusive a Odontologia), surgiu, portanto, a Secretaria de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, chefiada este ano pela Dra. Ana Estela Haddad.
Para a Secretária, que já integrou a equipe de Câmaras Técnicas do CROSP, saúde digital é um conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensar e valores que se desenvolvem em função do crescimento digital. Na Odontologia, é a aplicação desses conceitos às características da prática em sinergia com as tecnologias emergentes para a classe.
A Odontologia, de acordo com a cirurgiã-dentista, embora possua um corpo complexo de conhecimento dividido em várias especialidades, assim como toda profissão da área da saúde, deve se desenvolver de forma integrada ao sistema de saúde pública. “Nós temos que considerar um patrimônio e um privilégio que no Brasil tem-se um sistema de saúde que pensa e considera o atendimento de saúde de uma forma integrada. Isso abre possibilidade para nós tanto exercermos e trabalharmos com as especificidades da saúde bucal, quanto para pensarmos a saúde bucal como uma linha de cuidado que se integra com a saúde geral”.
Dra. Ana Estela ainda destacou que graças à Lei 14.510, decreto que autorizou e estabeleceu a prestação de serviços à distância a todas as profissões da saúde no Brasil, promulgado em dezembro de 2022, hoje se tem uma avenida a ser regulamentada e estruturada para fazer com que a teleodontologia chegue com mais qualidade e acesso à população.
Por outro lado, a especialista ponderou que ainda existem desafios a serem superados para que a universalização do acesso seja atingida. “Nós ainda temos que superar desafios tecnológicos. A própria conectividade é limitada e difícil em muitas regiões do país, então precisamos de outras políticas públicas. Precisamos que a política de saúde esteja integrada com a de infraestrutura, com a de comunicação e com a de conectividade”.
Além dessa atuação de forma sinérgica entre as políticas públicas, outro ponto de suma relevância abordado pela especialista em Odontopediatria e professora titular da FOUSP foi a formação de profissionais, de modo a capacitá-los a usarem a tecnologia com cuidado e segurança necessária para proteger os dados dos pacientes e manter o sigilo da consulta.
“Esse conceito, com certeza, já se tornou uma matéria na graduação de Odontologia. Na USP, por exemplo, a gente incorporou a teleodontologia dentro da Odontopediatria. Assim, os alunos vivenciam tanto os ensinamentos teóricos, quanto as teleconsultas e as suas diretrizes na prática”, explicou.
Por fim, a Secretária falou sobre a aplicação da teleodontologia na realidade brasileira e o seu potencial de inclusão e democratização da saúde pública no país. Segundo a Dra. Ana Estela, a promoção e prevenção de saúde, seja em relação às doenças bucais ou em relação às doenças crônicas não transmissíveis que têm fatores de risco comum com a Odontologia, como diabetes e hipertensão, podem ser facilitadas pela informação. “A telessaúde é um veículo do processo de educação dos pacientes para a saúde, então certamente a gente pode fazer muita coisa nesse caminho, fazer com que a informação de qualidade seja melhor disseminada a todos”.