O juiz Marcelo Bretas, responsável pela Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, disse, nesta sexta-feira (27), que administradores corruptos merecem uma “pena de morte política”.
“Políticos e administradores corruptos não podem ter segunda chance; se ficar provado, acabou”, disse Bretas, em palestra na Casa de Não Ficção Época & Vogue, durante a Flip.
Bretas respondeu a perguntas de Bernardo Mello Franco, colunista do jornal O Globo, Plínio Fraga, editor-chefe da revista Época, e da plateia. “Pra mim, aquela pessoa morreu, é como se fosse uma pena de morte política”.
Indagado se a legislação atual, que prevê oito anos de afastamento, não resolve esse problema, Bretas afirmou: “Isso é bom, mas não resolve”.
Segundo ele, se fosse adotada essa “pena de morte política”, no futuro, quando houver alguém interessado em ingressar na atividade política com más intenções, vai pensar um pouco mais.
O juiz disse temer que a eleição presidencial interfira com o andamento da Lava Jato. “O presidente da República indica os ministros do Supremo e, a depender das pessoas indicadas, agentes políticos envolvidos na investigação podem se sentir mais, ou menos tranquilos”, afirmou.
“Tirando uma decisão envolvendo a manutenção da prisão de um senador (Aécio Neves), a plenária do STF sempre apoiou a continuidade das investigações. Refirmo-me à plenária, não a casos julgados individualmente.”
Bretas afirmou que não há politização da operação. “Precisamos praticar a justiça sem olhar para quem está do outro lado, é disso que o Brasil está precisando, o juiz não é inimigo de ninguém”.
O juiz defendeu o uso das delações premiadas pelo Judiciário, afirmando que as críticas vêm de “profissionais pagos para defender interesses dos acusados’.
“Que eu saiba não tem nenhum acusado dizendo que foi coagido, que o MP o forçou a se ajoelhar no milho atrás da porta e não aguentou de saudades da esposa e resolveu colaborar”, disse. Ele afirmou estar sendo procurado por muitos acusados que dizem querer fazer delação e devolver dinheiro proveniente de operações ilegais.
Bretas rebateu críticas sobre o excesso de publicidade em relação à operação e afirmou que é importante divulgar à imprensa os processos, dentro do permitido por lei, porque se houver sigilo, nenhum processo vai andar.
Em relação à influência da pressão popular sobre as decisões dos juízes, Bretas ponderou: “O juiz não tem que decidir de acordo com a vontade popular, mas o Judiciário deve priorizar os assuntos que a sociedade quer que sejam prioridade”, disse. “Já vi autoridades dizendo que combate à corrupção não deve ser prioridade, mas não é assim. A sociedade quer que seja priorizado.”
O magistrado afirmou que um juiz precisa tomar muito cuidado em relação a sua imagem, no caso de empresários ou políticos quererem tirar fotos, por exemplo. “Carrego a imagem do Estado, minha função não deixar que alguém use minha imagem para se promover.”
Indagado se havia recebido convites para entrar na política, Bretas disse que não e que não pensa em se candidatar. “É fora do meu universo, nunca pensei nisso, do mesmo jeito que nunca pensei em ser médico, por exemplo”.
TWITTER
O juiz defendeu o uso do Twitter por autoridades, embora tenha afirmado ter errado ao usar a ferramenta. “Eu me arrependo daquele Twitter, foi bola fora” , disse, referindo-se a seu comentário sobre as críticas recebidas por causa de uma ação que moveu na Justiça pedindo que tanto ele quanto a mulher, também juíza, recebessem auxílio-moradia –uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) proíbe o pagamento do benefício a casais que morem sob o mesmo teto.
“Pois é, tenho esse ‘estranho’ hábito. Sempre que penso ter direito a algo eu vou à Justiça e peço. Talvez devesse ficar chorando num canto, ou pegar escondido ou à força. Mas, como tenho medo de merecer algum castigo, peço na Justiça o meu direito”, tuitou.
“Eu não fui inteligente, não foi a forma correta de se dirigir ao público”, afirmou, referindo-se ao comentário.