Foi as margens dos rios Tigre, Eufrates e Nilo o chamado “Crescente Fértil”, que nasceram as primeiras civilizações. Não demorou muito Roma desenvolveu-se à beira do Tigre e de seu império fez-se a “civilização ocidental cristã”.
Aqui no Brasil os rios foram os caminhos mais fáceis a serem percorridos pelos portugueses trazendo o desenvolvimento e a interiorização.
Foi pelo Rio Tietê em São Paulo que seguiram as “entradas e bandeiras”. Pelo “Velho Chico” – rio São Francisco, adentraram os senhores de terra, fazendo currais de gado e famílias de escravos – nascia a “civilização do couro”. Em nossa região, Extremo Sul do Piauí, a maioria das cidades nasceram às margens do rio Gurguéia.
Não é de hoje que o mundo “gira” em torno da água. Estamos cansados de saber que a água é o principal sustento do ser humano e de toda biodiversidade. De uma coisa não há mais dúvida, de que sem água não há vida.
Porém, hoje, no campo e nas cidades, os rios estão morrendo. De cada dez rios brasileiros sete estão poluídos. Todos os rios que cortam cidades, já viraram esgotos, latrinas, lixeiras. Cá pra nós, o rio Corrente (na cidade de Corrente-PI) é um exemplo claro disso, recebendo esgotos a céu aberto.
Somos uma sociedade que não está preocupada em preservar as águas, mesmo sabendo que ela é um dos principais fatores para o nosso desenvolvimento. Vivemos o armargedon (a batalha final), e a escassez hídrica é um forte sinal a nos revelar que estamos no início do fim.
E não é preciso olhar pra longe para percebermos que estamos a definhar a cada dia. Em Cristalândia, o rio Palmeira já morreu, a lagoa de Parnaguá já deu seu primeiro aviso em 2015 quando ficou sem uma gota d´água, o rio Paraim já está na “UTI”, o rio Corrente, em seus últimos suspiros pede socorro, em Curimatá o açude Vereda secou e o povo passou sede; em Avelino Lopes, a barragem diminui a cada ano, em Morro Cabeça no Tempo o abastecimento é em caminhão pipa. Por fim, o Gurguéia, principal rio da região sofre de falência múltipla, com suas margens desnudadas, leito assoreado e nascente devastada. É o fim! Morrendo os rios, nascendo a miséria.
Sem água, no campo as pastagens seca, as plantações falecem, os animais definham e o agricultor desespera sem um raio de esperança, caindo o consumo de arroz e feijão, mergulhando em má alimentação e fome.
Nossas pequenas cidades violentas e inseguras, não param de inchar. Aos poucos o campo vai ficando esvaziado sobrando apenas a miséria camponesa e a degradação ambiental. Mesmo com milhares de sinais mais que evidentes de que com este modelo de desenvolvimento não há futuro, insistimos nele cada vez mais.
Esgotado o “desenvolvimento”, precisamos recuperar o “envolvimento”, salvando a a biodiversidade, a terra, os rios, as tradições culturais, a segurança alimentar.
Se é verdade que “um rio é como um espelho que reflete os valores de uma sociedade”, a nossa não vale o que bebe…
Com uma gestão das águas unida e participativa através do Comitê da Bacia Hidrográfica do Gurguéia, podemos contribuir para aliviar o triste quadro. Por isso gritamos: DEUS, SALVE O EXTREMO SUL DO PIAUÍ!!!
* Israel Boaz Lemos Guerra (Badé) é jornalista, editor/colunista do Portal Fort Notícias.