Anna Virginia Balloussier | Folhapress | Rio de Janeiro |
Davi Nogueira, 3, larga o pacote de Fandangos no colo da mãe, fica de pé na cadeira e primeiro simula uma arma com os dedos indicador e polegar das duas mãos, depois, mostra seis dedinhos.
“Vai lá, filhão! Quem são os seis presidentes militares?”
Ao incentivo do pai, o ex-bancário e hoje motorista de transporte alternativo Jean Nogueira, 35, ele reage:
“Castelo Blanco [Branco]! Costa e Silva! Médici! Geisel! Figueiredo!”
Faz uma pausa dramática e continua: “Bolsonalo!!! [Bolsonaro]”.
Os pais sorriem, orgulhosos, e fazem cafuné no cabelo encaracolado do filho, que usa uma camisa de Jair Bolsonaro reinventado como um Capitão América com o verde-amarelo do Brasil.
É domingo (22), “domingão do capitão”, entoam militantes na convenção partidária que consagrará o capitão reformado do Exército como presidenciável do PSL. Davi deixou de fora outros militares que assumiram a Presidência, como o primeiro dos mandatários brasileiros, Deodoro da Fonseca, mas o clima está dado: chegou a hora de pôr ordem num país que precisa “voltar a cantar o Hino Nacional”, como bradaria minutos depois o senador, pastor evangélico e quase-vice de Bolsonaro, Magno Malta (PR-ES).
O “saudoso doutor Enéas” poderia ser esse cara, diz o técnico de radiologia Leonardo Barros, 31, que administra no Facebook a página “Bolsonéas”, fusão de Bolsonaro e Enéas Carneiro (1938-2007).
“Eu sou o Bolso, e ela, o Néas”, brinca ao apontar a namorada, os dois com camiseta que traz uma charge fundindo seus dois políticos prediletos numa mesma pessoa (basicamente, o capitão reformado com a farta barba preta de Enéas).
“Tem uma parte da imprensa que, além de ser especialista em fake news, se especializou em lixo news”, afirma em seu discurso o general Augusto Heleno (PRP), outra possibilidade de vice na chapa bolsonarista que não se concretizou.
Uma hora antes do discurso do militar, Leonardo já reclamava que Bolsonaro era alvo de notícias falsas, como anos antes o foi Enéas.
“Ele sofreu o mesmo problema, foi alvo de algumas fake news. Quando defendeu a ideia da bomba atômica, foi mais uma questão de segurança nacional. As pessoas deturparam, falaram como se ele quisesse explodir o mundo.”
A mídia parece alérgica à direita e nem tenta entendê-la, prefere taxar todo mundo de fascista boçal, afirma Leonardo, que já votou em Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) em eleições passadas e hoje se define como “uma direita bem conservadora”.
O que, veja bem, não é sinônimo de radical, diz. “Quero ter com a esquerda um debate de ideias. Não acho que tem que exterminar ninguém. Se eu ver um cara com camisa do Lula, não vou querer bater nele.”
“Falam como se a gente fosse racista, fascista, mas a maioria do eleitor do Bolso não tem nada a ver com isso. A mãe dela [olha para a namorada] era negra. Fui amigo íntimo de homossexual, dormi na casa de homossexual.”
Uma birra que Leonardo tem com a esquerda é “esse negócio de direitos humanos”, afirma. “Não sou contra, a ideia é boa, só que não está funcionando da maneira correta.” O pessoal passa muito a mão na cabeça de “delinquentes”, e todo mundo sabe que a prisão “é uma fábrica de bandidos”, exemplifica.
Ali ao lado, a advogada Janaína Paschoal conta à imprensa quem respondia que queria ser quando crescesse, quando pequena: a ex-primeira-ministra britânica e totem do conservadorismo Margaret Tatcher. Hoje Janaína, além de coautora do pedido de impeachment da petista Dilma Rousseff, pode agregar ao currículo o posto de vice de Bolsonaro.