Por Darlan Alves Lustosa | A Operação USG, deflagrada pela Polícia Civil da Bahia no dia 17 de dezembro de 2024, completa 30 dias e ao invés de gerar um clamor político por justiça, encontra uma cidade mergulhada no silêncio, ao que parece da cumplicidade e da omissão, principalmente por parte daqueles eleitos para fiscalizar.
Apesar da gravidade das denúncias, o prefeito, o vice-prefeito – que, ironicamente, é médico – e agora, oito vereadores da base governista seguem calados. Não se sabe se por conivência, por medo ou simplesmente por desrespeito à população que os elegeu. Os vereadores da situação jamais se juntaram a voz dos quatro vereadores da oposição à época – Manuela Rocha, Roberto Andrade, Lúcio e Rosita – que foram os únicos a romper o silêncio e cobrar explicações, inclusive três deles, no pós-operação.
Interessante lembrar que a Câmara Municipal, que deveria fiscalizar e cobrar melhorias, está localizada em frente ao Hospital Municipal Dr. Altino Lemos Santiago. Mesmo assim, os vereadores da base governista nunca ouviram os lamentos dos enfermos, nunca sentiram o calor insuportável nos quartos, nunca testemunharam a falta de remédios ou a angústia de quem precisa de atendimento digno. Como podem ignorar essa realidade gritante, quando ela está escancarada diante de seus olhos?
A investigação aponta para supostos desvios de recursos públicos na Secretaria Municipal de Saúde, a princípio de R$ 12 milhões, e mobilizou dezenas de agentes da DRACCO e DECCOR, que cumpriram mandados em diversos endereços de Formosa do Rio Preto e em dois municípios vizinhos no Sul do Piauí.
A Prefeitura, por sua vez, emitiu uma nota burocrática alegando que já vinha apurando os fatos e que contratou uma empresa de auditoria. No entanto, a inércia administrativa continua evidente, já que a precarização da saúde pública, iniciada em 2021, apenas se aprofundou. Contratar empresa de auditoria ou assessoria é meramente burocrático e não resolve os problemas estruturais gritantes.
Com a investigação em andamento, a população de Formosa do Rio Preto segue esperando as próximas fases, que tudo indica, se não houver uma mudança de rota, deve ocorrer em breve.
Enquanto isso, pacientes internados declaram um cenário desumano: falta de medicamentos, leitos quentes por falta de ar-condicionado no sol escaldante do oeste baiano e um hospital onde até mesmo um raio-x não funciona, obrigando doentes a se deslocarem 70 km até Corrente para exames básicos. O lixo hospitalar se acumula em cestos sem tampa nos quartos, expondo ainda mais os pacientes ao risco de infecção.
A Prefeitura ainda tenta se eximir de culpa, alegando que o prefeito não é investigado e que a Secretaria de Saúde possui autonomia financeira. Quem administra tem responsabilidade direta pelo caos instalado.
Formosa do Rio Preto assiste, sem reação, ao aprofundamento desse abismo de descaso. O povo, que antes protestava por esperar 20 ou 30 minutos por atendimento na gestão anterior, agora assiste inerte ao colapso total da saúde, ainda que os anos 2016/2020 não tenham sido os ideais, mas eram incomparavelmente melhores.
O silêncio não é apenas omissão, é conivência.