Foi no começo da década de 1960 que visitei Formosa. Era um distrito de Santa Rita; não mais Itajuí. Encantei-me com a recepção e a hospitalidade de seus moradores. Ainda menino, conheci criaturas notáveis e admiráveis: seu Martiniano, seu Eliezer Santiago, Major Liô, seu Catolé, seu Du, seu Oscar, seu Quinza Pezinho, seu Mimi, seu Alonso, seu Pompilio, seu Anatólio, dona Edinésia, Benedito Araújo/dona Sissi, Zé Lelis, mestre Antônio, seu Januario, Binha, Agamenon, Teté, Orlando César, Jorge Correia, tio Oyama, seu Pedro Mariano, tia Zélia Araújo, Antônio Araújo, Chinqunho Bonfim, Luís Gasolina/dona Pitucha, seu Cassimiro, Chiquinho Dentista, seu Cristóvão, seu Isaías, seu Maneca, seu Thompson França, seu Luis Messias e muitos outros que da memória me fogem agora.
Recordo-me de tantos casos deles, mas hoje é algo pré-histórico para as novas gerações. São casos que ainda agora me emocionam porque muitos deles vivenciei em minhas nostálgicas visitas. Há tempos não visitava Formosa. Põe tempo nisso. Espantei-me com a expansão da cidade, que cresceu numa rapidez que atropelou sua história. Modernizou-se. Me perdi em novas avenidas. Que estranho, a Rua da Matriz, com suas mongubeiras centenárias, não é mais a principal avenida de Formosa. Ainda bem que muitas ruas da cidade preservam os nomes desses vultos antepassados.
Quis me hospedar na acolhedora pensão de seu Martiniano. Qual nada! Um prédio envidraçado ocupava aquele lugar. Em frente, quis rezar na igreja do Coração de Jesus, pagar promessa. Estava fechada para reforma. Fui revisitar o salão de Antônio Araújo que de tão grande nunca enchia. Ali dancei com as atraentes formosenses ao som de Irênio Leitão e de Biriba. Já não existia mais. Tentei rever o Tremendão, de Abi, onde curti ao embalo do conjunto Os Cafonas. Outra decepção. Bom de memória, recorri a Luciano, genro de Bertilha e de Domingos Bispo. “Meu caro, eu era muito jovem, mas me lembro de muitas festas do Tremendão, pois minha missão era ajudar meu pai a recolher as garrafas vazias sobre as mesas”.
Não é filosofia, mas na vida tudo se esvai… desaparece, quase tudo fica para trás, vira lembrança, vira saudades.. “Lembranças por que não foges de mim?”
Fácil perceber que Formosa soube acolher a diversidade de braços abertos, uma cidade sem fronteiras. Todos que chegam são bem acolhidos, desde que com boas intenções.
Procurei os amigos do sagrado rosário de minhas amizades. Poucos encontrei: Chiquito, Sândalo, Dudu, Valmizinho, Dejinha, Joilson, Zé Gomes,Tonha, Maria Helena, Rosinha, Bira. Tive o prazer de conhecer Darlan. Não vi Pedro Guedes/Nininha, nao vi Lula Santiago, nao vi Felipe, não vi Carla, não vi os meninos de Antônio Araújo, não vi os meninos de seu Catolé, nao vi Termosires, não vi Nailton/Marise, não vi Ritinha, não vi Zeca, não vi Zenilde, não vi Cota, não vi Néo, não vi Zé Araújo. Muita gente não vi que eu gostaria tanto de ver e em cada um deles dar um acochado abraço. Meus amigos Chiquito/Sândalo me contem: “Meu caro, a maioria desse povo já não mora mais aqui”. Conformei-me. Porém, vi a simpática dona Antusa, que de Formosa nunca esquece.
O rio cheio não me deixou visitar o porto que no passado longínquo namorei uma formosense sentado num tronco de Canjarana. Que momento feliz aquele! Recordo que as águas desciam enquanto meu sangue subia a me formigar sentimentos amorosos. “Velhos tempos, belos dias”. A vida nos apronta cada uma… quis o destino que eu voltasse agora a Formosa casado com essa doce formosense Divina Pastora.
Ao atravessar a ponte de madeira, lembrei-me de três impolutos e notáveis formosenses: Dante França, que, com seu prestígio, consegiu os recursos para construí-la; Dilson Ribeiro que escreveu crônicas e poesias realçando as belezas dessa terra, “O Rio Preto dos meus sonhos”; Zezi Paes Landim, o santa-ritense que adotou Formosa como sua para ciúme de todos nós.
Quando voltamos do passeio pela cidade (Carmesim, Carmélia, Pastora e nossa filha Talita – o povo de Jorge Correia – para nos despedir e agradecer à nossa anfitriã, Bertilha, pela prazerosa hospedagem, sua irmã Elza lá estava. Falamos de tantas reminiscências e da nova Formosa. Ela olhou para cada um de nós e com o semblante de tristeza saiu-se com esta: “Gente, Formosa de outrora só existe agora em nossas lembranças”. Foi aí que me veio o que disse o poeta: “tempos idos e vividos que os anos não trazem mais”.
Nessa narrativa, alguém há de dizer que eu vivo do passado. Retruco, como retrucou Paulinho da Viola: “Eu não vivo do passado; o passado é que vive em mim”.
Na hora das despedidas, um presente: Luciana, de Luciano, nos oferece o livro O Língua, cujo autor é o formosense Eromar Bomfim, o Mazinho, que comecei a ler.
Em minha estada em Formosa vivi saudosas recordações, não nego. “Não sei se chorei, não sei se sorri, só sei que emoções eu vivi”, como disse o rei Roberto Carlos; vivi esses breves momentos sempre ao lado de pessoas amorosas.
Nos 60 anos de Formosa, que se comemora neste dia 22/12, transmito os meus mais exaltados cumprimentos e reverências aos acolhedores formosenses, aos que se foram e aos que ficaram. Assumo aqui neste encerramento um compromisso: não te esquecerei Formosa. Feliz aniversário! Zé Tito.
Tito Matos
Zé Tito é jornalista, mora em Brasília
e nascido em Santa Rita de Cássia