por Clélia Dias de Araújo* com título original Reminiscências
Á Luzanira Ribeiro, filha da minha saudosa comadre Inácia.
Naquele tempo, às margens do Rio Preto, a vila tinha apenas uma “Rua Grande”, hoje Avenida Matriz, e mais 6 pequenas ruas: Rua Beira do Rio, Rua da Ladeira, Rua Domingos Almeida, Rua do Cruzeiro, Rua da Travessa, Rua do Egito e uma praça da Igreja do Padroeiro Sagrado Coração de Jesus.
Circundada com roças de pastagens e matas de cajueiros, pequizeiros, articum e muricis; frutos muitos apreciados por todos. O comércio tinha 5 lojas, 2 armazéns (sendo um do meu saudoso pai), 2 bodegas, 1 livraria, 1 açougue, 1 padaria, 1 alambique ( de três moças velhas), 1 curtume, 1 usina beneficiadora de arroz. 1 escola particular e uma pública de ensino primário, também um colégio particular (Ateneu 2 de Julho), com ensino igual ao ginasial de hoje onde estudei.
O Teatro São Roque, com apresentações: drama, comédias, canções, bailados e declamações. Sob a direção do saudoso Jorge Correia e dona Zélia com a sua flauta. Um jazz do saxofonista Edmundo, que animava as festas: natal, reis, carnaval, São João e festa do padroeiro Coração de Jesus, com leilões e quermesses; nas artes tinham o mestre Antônio, cabeleireiro e sapateiro, que fabricava calçados melhor que os fabricados do Rio Grande do Sul. Tinha Casemiro da família Teixeira, que fabricou um ajojo para travessia no Rio Preto, e também fabricava fogos de artifícios.
Tinha também ferreiros e flandeiros; alfaiates, costureiras, bordadeiras, rendeiras, floristas e pintoras. Escola de música, Correios e Telégrafos. A zona rural, produzia: arroz, feijão, milho, mandioca com desmanche de farinha e tapioca; cana-de-açúcar com fabrico de rapaduras. Criação de gado, cabras, porcos e galinhas. Também do Gerais, vinha: arroz e farinha; carne seca de anta e capivara; peles de lontra, jaguatirica, sucuriú, penas de ema, borracha, peças de artesanatos como: chapéu de palha, tipiti, esteiras, abanos, cestos, cordas de tucum e caçoás e outros mais.
Meios de transportes: balsas de buritis, que levava para Barra do Rio Grande, madeiras, frutas, banana e lima. O vapor Jansen Melo uma vez por mês trazia de Juazeiro mercadorias e levava cereais, couros e peles e outros. Transportes: carros de boi e cavalos.
Naquele tempo o dinheiro era para poucos; não tinha luxos nem gastos supérfluos. Viviam do que produziam, principalmente na zona rural; só compravam o sal e o café. O povo era feliz, alegre, só sentia tristeza quando falecia uma pessoa por falta de assistência médica. Como em 1944, faleceu o meu padrinho, Argemiro Dias dos Santos e em 1947, faleceu sua irmã Merina e também o meu querido pai, João Dias dos Santos. Foi uma dor que achava que nunca iria desaparecer; mas Deus é grande em sua misericórdia e já proporcionou muitas alegrias em minha vida.
Clélia Dias de Araújo
Clezinha é ex-vereadora e escreve no Facebook sobre as saudades de uma Formosa do Rio Preto de outrora.
Tão bom ver e ouvir essas histórias antigas
Queria ouvir mais sobre minha Formosinha de açúcar ❤️❤️🥹