Segundo o relatório anual mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM), os anos de 2015 a 2022 foram os oito mais quentes registrados em 173 anos de medição. A temperatura média em 2022 foi 1.15°C mais alta do que a média registrada entre 1850 a 1900. Estes dados acompanham diversas outras evidências da mudança climática e seus impactos, detalhados no relatório intitulado “State of the Global Climate” (“Situação do Clima Global”, em tradução livre).
O material detalha, por exemplo, o aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos como secas, ondas de calor, incêndios e enchentes. No relatório, há exemplos de como as mudanças no clima afetam diretamente os ecossistemas, como um estudo sobre as variações nas datas de floração de cerejeiras no Japão.
A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta, em seus materiais informativos sobre mudança climática, o deslocamento humano e a falta de comida como efeitos das alterações no clima com impacto direto nas atividades humanas. O estresse térmico e a escassez de água, por exemplo, afetam todo tipo de produção agrícola.
Dentre eles, um dos tipos de produção que está claramente ameaçada pela mudança climática é a de uvas para a viticultura, presente em diversas regiões do mundo com diferentes níveis de impacto das alterações de temperatura. Uma reportagem deste ano da BBC mostrou, por exemplo, como a mudança climática afeta a produção de vinhos na Austrália, o quinto maior exportador de vinhos do mundo.
As mudanças climáticas afetam diretamente o terroir, que é a interação única entre o solo, clima e a videira. “Alterações na temperatura, padrões de chuva e incidência de eventos climáticos extremos podem afetar a maturação das uvas, a saúde das videiras e, consequentemente, a qualidade do vinho”, explica Ricardo Castilho, sócio-fundador da Elite Vinho.
Em 2019, uma matéria da National Geographic mostrou como a mudança climática provoca alterações de sabor em vinhos franceses, porque o amadurecimento mais rápido das uvas, favorecido pelo calor, provoca aumento na concentração de açúcar. “Em regiões tradicionalmente mais frias, como a Borgonha na França ou a região de Mosel na Alemanha, o aumento das temperaturas tem, em alguns casos, beneficiado a maturação das uvas”, esclarece Castilho. “No entanto, em regiões mais quentes, como partes da Austrália ou da Califórnia, o excesso de calor pode levar a uvas super maduras e vinhos com alto teor alcoólico”, completa.
Para além dos desafios
A adaptação das vinícolas à mudança climática tem efeitos para além da mitigação das alterações no sabor dos vinhos. Os exemplos de vinícolas trazidos pela matéria da BBC adotaram estratégias como plantio de árvores e redução das emissões de carbono, o que contribui para o combate à mudança climática de forma geral.
“A indústria vinícola global tem demonstrado uma crescente conscientização sobre os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Muitas vinícolas estão adotando práticas agrícolas sustentáveis, como a viticultura orgânica e biodinâmica, para fortalecer o solo e as videiras”, conta Castilho. Há também, acrescenta o especialista, investimento em pesquisa para o desenvolvimento de variedades de uvas mais resistentes ao calor e à seca e uso de tecnologias que otimizam o uso da água.
As emissões de gases do efeito estufa, entre eles o dióxido de carbono, são a principal causa das alterações climáticas. Enquanto essas alterações representam desafios para a produção das vinícolas, as estratégias de mitigação também podem ser parte da solução.
“Vinhedos bem administrados podem atuar como sumidouros de carbono, ajudando a mitigar os efeitos das emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a crescente ênfase na sustentabilidade está levando muitas vinícolas a adotar práticas que não apenas protegem seus próprios terrenos, mas também beneficiam os ecossistemas locais”, finaliza Castilho.
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