Prêmio Abapa de Jornalismo leva estudantes para imersão na cotonicultura baiana

De onde vem a matéria-prima das roupas de algodão que usamos no dia a dia, quem produz, como, quando e o que acontece entre a lavoura e o guarda-roupas? Para os mais de 70 estudantes de jornalismo que visitaram a região Oeste da Bahia nos dias 25 e 26 de agosto, as famosas perguntas do “lead” – o primeiro parágrafo de um texto jornalístico – não ficaram sem resposta. A convite da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), alunos das universidades baianas UFBA, Unifacs, UniFTC, Unijorge, UESB e Unime visitaram uma lavoura, diversas etapas do processo produtivo do algodão e participaram de um Ciclo de Palestras, como parte do Prêmio Abapa de Jornalismo 2022. As atividades são requisitos da categoria Jovens Talentos, obrigatórias para quem deseja se habilitar aos prêmios de até R$4 mil.

Os jovens conheceram em detalhes o conceito e como funciona o programa de sustentabilidade Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que, desde 2013, opera no país, em benchmark com a Better Cotton Initiative (BCI), com apresentação da representante da Abrapa, Silmara Ferraresi. Na mesma linha do compromisso com a sustentabilidade e a relação com a moda e o consumo, Silmara falou sobre o movimento Sou de Algodão. Os temas suscitaram várias perguntas, e os estudantes participaram ativamente da palestra. “Esta iniciativa é fundamental, pois os estudantes serão os futuros formadores de opinião, e entender o processo produtivo desta fibra sustentável faz toda a diferença. O Prêmio reforça o trabalho da Abrapa, com o Sou de Algodão, de esclarecer dúvidas e fomentar novos talentos”, afirmou Silmara, que é gestora do movimento Sou de Algodão.

O presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi, participou por vídeo ao vivo do ciclo de palestras, e apresentou a conjuntura da cotonicultura baiana e o papel institucional da Abapa. “A Bahia é o segundo maior produtor de algodão do Brasil, e a fibra sempre esteve presente aqui. As universidades, através da pesquisa científica, estão na base deste sucesso, e a aproximação com os cursos de Jornalismo é fundamental para que os alunos entendam o processo de produção deste agronegócio tão importante para o nosso estado”, disse Bergamaschi.

Transformação

Na lavoura do produtor Regis Ceolin, os estudantes acompanharam a colheita, que já está quase finalizada na Bahia. No dia seguinte, visitaram uma indústria de esmagamento de caroço de algodão, a Icofort, que produz “torta”, farelo, óleo e gorduras vegetais não hidrogenadas. A planta industrial de Luís Eduardo Magalhães é uma das duas que a empresa possui, sendo a outra no Vale do São Francisco. Juntas, têm capacidade de processamento de mais de 250 mil toneladas de caroço por safra e geram 500 empregos. Além do processo de esmagamento, os estudantes viram o deslintamento do algodão, no qual a “fibrilha”, que envolve a semente, é retirada para virar o línter.

Riane Bernardes, aluna do quarto semestre na Unijorge, em Salvador, estava numa lavoura pela primeira vez. “Fiz questão de pesquisar muito, antes de chegar aqui, mas estou impressionada com este ‘mar de algodão’. Não sabia que podia ser rastreado da semente ao guarda-roupa. Depois desta visita, estarei mais atenta sobre de onde vêm os produtos que eu uso”, declarou.

Emily Chaves, do quarto semestre na UESB, em Vitória da Conquista, também pisava pela primeira vez numa lavoura de algodão e disse estar admirada e gostando bastante. “A visita foi muito além da minha expectativa. Não sabia que era assim, com essas máquinas enormes, tudo tão grandioso. Também não esperava uma experiência dessa durante a minha faculdade”, disse.

Beneficiamento

A etapa do beneficiamento da fibra foi acompanhada na Zanotto Cotton, empresa da família Zanotto, que também cultiva a commodity. Os estudantes viram como o algodão que sai da lavoura é totalmente aproveitado e, além da pluma, dele derivam outros produtos que têm destinação certa. O caroço, além da semente, é base de produtos para alimentação animal e fabricação de óleos e margarinas. A fibrilha tem uso para determinados têxteis, e o línter, é base do algodão farmacêutico, notas de dinheiro e até de telas de celulares e computadores.

A usina Zanotto Cotton processa a cada safra em torno de 85 mil “fardinhos” de algodão e produz 135 toneladas de pluma por dia, algo em torno de 613 fardos diários. Eles foram recebidos pela empresária e vice-presidente da Abapa, Alessandra Zanotto, e Roberto Costa, que detalharam o passo a passo do capulho à pluma.

“Eu tenho grande admiração por este projeto. Para mim, é sempre uma surpresa constatar que muitos estudantes, oriundos de centros urbanos, sabem tão pouco do que acontece no campo. Nosso desafio é usar a melhor linguagem e aproveitar cada minuto desta visita para passar o máximo de informações, com precisão e verdade, para que eles saiam munidos de conhecimento e propaguem isso mundo afora”, pontuou Alessandra Zanotto. Depois, no Centro de Análise de Fibras da Abapa, os visitantes entenderam a importância da classificação para a comercialização e industrialização do algodão.

Ver de perto

Por fim, os futuros jornalistas assistiram a mais uma rodada de palestras, com o presidente da Abrapa e produtor de algodão na Bahia, Júlio Busato, o professor da Uneb, Jorge da Silva, e o representante da Têxtil Santa Clara, Rubens de Sá. Cada um dos palestrantes abordou a importância desta cadeia produtiva e dos segmentos aos quais eles representam para a economia, e o desenvolvimento social e ambiental do estado.

“Ver o desenvolvimento desta iniciativa me deixa muito feliz. Estamos mostrando para a sociedade, principalmente, para quem vive nas cidades, como e por quem é produzido o algodão na Bahia. Isso é importante para que as pessoas tenham uma percepção melhor e dá oportunidade para estes jovens verem de perto o trabalho dos agricultores do Oeste, que têm feito um esforço de produzir e conservar o meio ambiente. Isso ajuda a criar uma referência para o trabalho destes futuros jornalistas, que escreverão sobre algo que já conhecem. É também uma chance de terem uma ideia do agro como possibilidade de mercado de trabalho em suas áreas”, afirmou Júlio Busato.

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