“Queria que não fosse mais chamado de ator negro, só ator”, diz Boliveira

Por Marcela Ribeiro, do UOL

Apesar de ter consciência de que o número de atores negros cresceu na escalação da emissora, que recebeu um protesto do elenco de Segundo Sol (2018) e foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho pela ausência de negros e pardos na novela, Boliveira quer representatividade maior na TV e não deseja mais ser rotulado por isso.

“Acho pouco ainda. Queria que chegasse o momento que eu não fosse mais chamado de ator negro, só ator. Negro eu já sou, no meu movimento, na minha história, minha cultura.”

Fabrício Boliveira, ator

“Isso só vai acontecer quando a gente tiver mais atores negros trabalhando e não precisar mais chamar de atores negros, chama só de ator”, completa.

No ano passado, o ator falou que é confundido com frequência com outros artista como Lázaro Ramos e Seu Jorge e atribuiu isso à falta de mais negros na TV.

“Por que não temos maiores contingentes negros na novela para que todo mundo saiba que o Fabrício Boliveira não parece com o Lázaro Ramos ou com o Jonathan Azevedo ou com o Seu Jorge? Somos totalmente diferentes, idades diferentes, pensamentos diferentes.”

Papai Noel negro

No especial de Natal na Globo, que é protagonizado por uma família negra, Milton Gonçalves é Orlando, o patriarca da família Santos e será Papai Noel por um dia. Após sofrer com a perda da mulher Neuza (Zezé Motta), ele se vê contagiado pelo espírito natalino através da neta.

Boliveira faz André, filho de Orlando e Neuza e irmão de Vera (Camila Pitanga). Ele diz que sentiu falta dessa representatividade na sua infância.

“De algum jeito me faltou muito como criança representatividade, pessoas negras ocupando outros lugares, outros personagens. Estranho que, dentro do Brasil, a gente tenha uma representação de Papai Noel como se ele fosse americano, como se ele fosse de um outro lugar da nossa cultura, isso não está linkado à nossa realidade”, opina.

“Não sei se acreditei muito em Papai Noel, mas acho bom a gente pode repensar a cor de Jesus Cristo, por exemplo, a cor do Papai Noel ou da onde ele veio. De onde veio essa imagem de Jesus que nós temos? Por que essa imagem permanece para a gente como verdade absoluta? Pra mim é um contraste”, completa.

Amor de Mãe

Fabrício gravou uma participação especial na próxima novela das nove, que estreia dia 25 na Globo. Ele será Paulo, casado com Vitória (Taís Araujo), mas eles acabam se separando após a obsessão da mulher por engravidar depois de perder um bebê aos seis meses de gestação.

“Essa relação deles é um pouco sobre fim, toca em algum lugar, quais são esses novos fins? Quando a gente tem uma relação madura, onde não está ninguém tão passivo dentro da relação, ninguém necessita do outro financeiramente e emocionalmente. Como a gente consegue terminar de um jeito bacana? Essa é a nossa tentativa nesta novela”, explica.

dia da consciência negra
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