com informações do Correio*
Em pleno cerrado baiano uma fazenda vem se transformando em referência na produção agropecuária. A Fazenda Belo Alto, no município de Riachão das Neves, vem desenvolvendo um conjunto de iniciativas sustentáveis que impressiona. Além das 132 placas de energia solar, todo o restante da propriedade tem funções múltiplas.
A principal atividade da fazenda é a criação de gado e nos últimos anos, o esterco dos animais ajuda a recuperar solos degradados ao ser aplicado no pasto. Os restos dos alimentos são separados através de coleta seletiva e armazenados em compostagem para virar adubo. A nascente, de onde mina um olho d´água potável, está preservada.
Captada por um telhado de 900 metros quadrados, a água da chuva recebe tratamento especial. Ela é direcionada para reservatórios com capacidade para acumular mais de um milhão de litros de água, suficientes para vários meses em períodos de extrema seca. É esta água que abastece o gado e a sede da fazenda.
“Usamos técnicas para preservar a água, os minadouros, a água do subsolo, e para alimentar os rios. Todo produtor rural deve ser um produtor de água. Ser sustentável é produzir com consciência. Procura-se sempre fazer o melhor. Aqui temos uma reserva legal, que a gente protege como se fosse nossa família” , diz o produtor rural e médico veterinário Mário Mascarenhas, dono da fazenda, que chegou a regão oeste há mais de 30 anos. Com pontos intactos de mata preservada, a todo momento aparecem animais nativos, como tatu, porco do mato, cobras e cotias. Até uma onça já foi vista no local.
Com a mata preservada dentro da Fazenda Belo Alto, o produtor rural Mário Mascarenhas recebe estudantes e também a ‘visita’ constante de animais nativos. (Foto:Acervo Fazenda Belo Alto)
O complexo de ações sustentáveis vem desde 1989, quando a família, natural de Feira de Santana, se mudou para o Oeste da Bahia para trabalhar na área da saúde. O médico veterinário junto com a esposa, Edna, começou a colocar em prática o antigo sonho de trabalhar com agricultura, assim como tinha feito na infância quando acompanhava os país na lavoura.
Há dois anos eles começaram uma criação de peixes e ovelhas, confinadas também de forma sustentável. “Hoje tem que se pensar em reutilizar 100%. A gente pega o esterco dos ovinos, transforma em fertilizante, e põe em solos que estejam degradados. Isso recupera pontos em processo de desertificação. Já a água dos peixes é reutilizada”, diz Mário.
“Este é o caminho, porque se a gente fizer uma produção sem integrar, com desperdício, estaremos no caminho errado. Temos que usar técnicas de conservação para evitar a perda de solo, de matéria orgânica e a desertificação. Por isso muitos produtores estão usando técnicas como o plantio direto, quando não há remoção do solo, e o sistema agroflorestal, integrando lavoura e pecuária. Só assim daremos um drible na devastação”, completa.
Nos próximos meses será implantado um consórcio de cultivos na fazenda. Em uma mesma área vão ser cultivados pinha, grama, limão e galinha caipira. Em outra, serão implantados palma, pinha, maxixe e feijão de corda, que é uma leguminosa indicada para incorporar nitrogênio ao solo e reduzir a necessidade de adubos químicos.
Os projetos viraram referência na região e as porteiras são constantemente abertas para estudantes, pesquisadores e curiosos que planejam replicar as ideias.
Foram investidos R$ 380 mil para ampliar o sistema de energia solar que antes abastecia apenas a sede da fazenda. As novas placas passaram a gerar 32 quilowatts de energia e estão servindo também para o sistema de criação de peixes e para o aprisco das ovelhas. O produtor rural espera recuperar todo o investimento em cinco anos.
“Quando não tinha energia solar eu gastava 8 litros de óleo diesel por hora. Eram R$ 224 por dia, R$ 6.720 por mês. Somando com os gastos para trazer o combustível até aqui, eram quase R$ 10 mil por mês, cerca de R$ 100 mil por ano. O sistema atual também evita a poluição, o barulho dos motores, e tem um banco de baterias que consegue armazenar carga para a noite e para os dias nublados”, explica.
Reservatórios gigantes armazenam água da chuva. ‘Produzir’ água é um dos maiores objetivos do produtor rural do Oeste. (Foto: Acervo Fazenda Belo Alto)
O retorno financeiro vem de forma indireta, através das vendas dos produtos gerados dentro das fazendas. “Muitas pessoas já sabem como produzimos e valorizam os nossos produtos, porque o manejo da pastagem e a forma como tratamos os animais, prezando pela sanidade e bem-estar, com ração balanceada e silagem de qualidade, se refletem também no sabor e numa carne mais macia. Os consumidores procuram sem que eu ofereça no mercado. Hoje não conseguimos atender à demanda, os produtos não encalham”, acrescenta Mário Mascarenhas, que emprega 20 pessoas nas três unidades produtivas que mantem.
Enquanto a arroba do boi na região está sendo comercializada por R$ 155, o produtor rural vende por R$ 158. Já o quilo das ovelhas custa cerca de R$ 2 a mais que o preço médio da região. O quilo do peixe é vendido por R$ 1 a mais. Atualmente são comercializados 240 ovinos por mês, e 20 toneladas de peixe por ano, principalmente o tambaqui.
“Todo o nosso foco na produção busca a sustentabilidade. No sentido de preservar o planeta, de pensar o que será das gerações futuras se a gente não tomar providências. Estamos aqui para colaborar com a natureza. Em tudo o que fazemos para a humanidade, o primeiro beneficiado somos nós, é um processo integrado”, conclui.
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