Veterano barreirense da Segunda Guerra Mundial morre aos 104 anos

Faleceu aos 104 anos na tarde de domingo, (2) Eurypedes Lacerda Pamplona, único veterano barreirense da Segunda Guerra Mundial. O ex-combatente estava lutando contra uma pneumonia há um mês e havia sido transferido para o Hospital Militar de Salvador, na Bahia, onde não resistiu aos sintomas. Sua morte ocorre às vésperas de seu aniversário de 105 anos, que seria no próximo 10 de junho.

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“Não importa que não conseguiu completar 105 anos. Ele conquistou a imortalidade!” Declarou o Tenente R/2 Pinheiro, historiador que eternizou a sua trajetória no maior conflito da humanidade através da obra biográfica “Tiro, Guerra e Mito”, lançada em 2015, e relançada em 2019, em celebração ao seu centenário.

Eurypedes Lacerda Pamplona, era o único veterano barreirense da Segunda Guerra Mundial – Foto: Divulgação

Pamplona, anteriormente conhecido apenas no círculo militar, tornou-se uma celebridade regional, recebendo prêmios de todo o Brasil e participando de inúmeras palestras no Oeste Baiano. Sua história de vida inspirou milhares de estudantes, militares e civis, muitos dos quais prestaram homenagens nas redes sociais.

O corpo está sendo velado no Memorial Senhor do Bomfim, e será sepultado às 9h, desta terça-feira (4), no Cemitério São João Batista. O evento contará com honras militares do 4º Batalhão de Engenharia de Construção. Sua biografia está disponível gratuitamente para download, e mais informações podem ser encontradas na página do Instagram do historiador @joaopaulopinheirolima.

Biografia

Eurypedes nasceu em 10 de junho de 1919, na cidade de Barreiras, na Bahia. O jovem era o quinto dos sete filhos de Manoel Pamplona, guarda-fio do telégrafo, e Arlinda Lacerda, dona de casa e administradora de um pluviômetro.

Com 18 anos incompletos, incorporou-se ao Tiro de Guerra 128, aprendendo lições de civismo, educação moral, boa conduta, além das instruções militares. Formou-se então atirador da reserva de 2ª classe, na turma de 1937.

Mudança para o Rio de Janeiro

Em 1939, mesmo ano em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial, o jovem mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em lojas de armarinhos e tecidos, como a Costa Pacheco e a Sedas Brasil. Em 31 de agosto de 1942, após os afundamentos dos nossos navios mercantes pelos submarinos nazifascistas, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo Berlim-Roma-Tóquio.

Dois dias depois, na pensão onde residia, Eurypedes Pamplona recebia a carta que o reconvocaria às Forças Armadas. Nesse contexto, nascia a ideia da criação da Força Expedicionária Brasileira, o instrumento militar nacional destinado a cooperar com as Forças Aliadas na missão de destruir o inimigo comum.

Pamplona incorporou-se inicialmente ao 2º Regimento de Infantaria, o Dois de Ouro, onde passou por rigoroso adestramento e foi promovido à graduação de cabo. No dia 23 de novembro de 1944, o seu navio de transporte General Meighs zarparia da Baía da Guanabara com 4.691 militares do Quarto Escalão de Embarque, em direção a guerra. A missão era repelir as forças nazistas na Itália, em conjunto com o IV Corpo do V Exército de Campanha Estadunidense.

Em meados de dezembro, sob o rigoroso inverno europeu, nosso expedicionário baixou no 7º Hospital em Livorno, mesmo local onde serviu a 2º Tenente Enfermeira Aracy Sampaio, também barreirense. Seus dias no hospital eram perturbadores. Os canhões troavam constantemente, cada dia mais próximos.
Em janeiro de 45, participou de instruções juntamente com outros pelotões que muito em breve seguiriam para o front. Escalado agora como membro da 9ª Companhia do 11º Regimento de Infantaria, o pracinha foi escolhido para atirador da metralhadora Ponto 50. Sua tarefa seria rechaçar os alemães e dar cobertura para o avanço aliado em terreno inimigo.

Retorno ao Brasil

No memorável 12 de fevereiro de 1945, após longas marchas, o Cabo Pamplona teve o seu batismo de fogo em Belvedére, prestando importante contribuição na conquista do objetivo final.
Em 21 de fevereiro, apoiou em segundo escalão a Tomada de Monte Castelo, mais renomada conquista da FEB. No mês de março, o jovem aproveitou para reverenciar os seus irmãos de farda no Cemitério de Pistóia, mortos no cumprimento do dever.

No dia 14 de abril, viveria os mais tenebrosos dias da sua vida em Montese. A batalha se tornara um verdadeiro inferno de fogo, fumaça, sangue e bombardeios. Mas as tropas brasileiras não desistiam, cada vez mais conquistavam terreno e faziam prisioneiros. E foi assim que, por todas as cidades em que passavam, os brasileiros foram sempre bem recebidos com flores e aplausos de italianos eternamente gratos.

No dia 4 de maio de 1945, o cabo receberia a mais esperada notícia: Adolf Hitler, líder nazista, havia cometido suicídio. O comando das forças alemãs na Itália havia se rendido. A guerra da Força Expedicionária Brasileira havia acabado!

No inesquecível 17 de setembro, Pamplona e os seus companheiros desembarcaram emocionados no Rio de Janeiro, ovacionados por uma multidão delirante, pronta para recepcionar os novos heróis que desfilaram garbosamente pela Avenida Rio Branco. Em 30 do mesmo mês, foi licenciado do serviço ativo para ingressar novamente na reserva do Exército Nacional, regressando definitivamente a sua cidade natal pouco tempo depois.

Livro e homenagens

Com a sua trajetória imortalizada nas páginas de um livro, o expedicionário tornou-se uma celebridade conhecida não apenas pelo segmento militar, mas por toda a cidade de Barreiras, e até mesmo pelo Brasil, motivo pelo qual recebeu diversas premiações das mais distintas instituições do país. Desta forma, estas diversas entidades colaboraram indiretamente para a formação de um acervo, hoje transformado no Museu do Cabo Pamplona, na residência do próprio herói.


A sua fama expandiu-se a tal ponto que, em 11 de setembro de 2020, foi recebido pessoalmente pelo Presidente Bolsonaro, juntamente com o seu biógrafo, no salão do aeroporto de Barreiras.

Eurypedes Lacerda Pamplona, era o único veterano barreirense da Segunda Guerra Mundial – Foto: Divulgação

Colaborou João Paulo Pinheiro Lima Primeiro, historiador 0000002/BA, Tenente da Reserva do Exército Brasileiro e soldado da Polícia Militar da Bahia.

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