Defensor da diversidade, Bahia é único time com técnico negro na Série A

Roger Machado é o único técnico negro entre os 20 clubes da Série A do Brasileirão — Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia

do Globo Esporte

O Bahia adotou uma bandeira. Desde a última temporada, o Tricolor tem como política ir além do futebol. Para tanto, criou o Núcleo de Ações Afirmativas, promoveu ações em defesa de pautas humanitárias e também o debate aberto sobre temas ligados a diversidade. Neste ano, ainda que não de forma proposital, ocupará uma posição emblemática. Será o único time da Série A com um técnico negro à frente da equipe profissional.

Roger Machado não foi contratado como parte de uma ação afirmativa. Ele foi escolhido para substituir Enderson Moreira por seu histórico como técnico e para tentar promover a evolução de um grupo que estava estagnado e havia decepcionado em duas competições prioritárias: a Copa do Nordeste e a Copa Sul-Americana. Porém, a presença do treinador no banco tricolor casa com a postura do clube, que aborda temas delicados publicamente nas redes sociais, em ações de marketing e também em declarações de dirigentes.

A minoria de pessoas negras em cargos de chefia não é exclusividade do futebol. Mesmo em Salvador, cidade em que a maior parte da população é negra ou parda, a distância racial nos postos de trabalho com maior remuneração é grande. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD Contínuo) do 4º trimestre de 2018, as pessoas que se declararam brancas tiveram rendimento mensal médio de R$ 5.416, mais que o dobro dos pardos, com R$ 2.467, e mais que o triplo dos negros, com R$ 1.746.


Futebol é um reflexo amplificado da nossa sociedade, onde as diferenças sociais promovem essa desigualdade. Nós temos no Brasil um preconceito de raça, de cor, agravado pela classe social. A pouca representatividade do negro e do ex-atleta na gestão técnica, se dá da mesma proporção que se dá na sociedade. O preconceito está em acreditar que a nossa capacidade se restringe mais a dentro de campo e menos nas áreas de gestão



disse o treinador ao GloboEsporte.com.

O presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, aponta para o desequilíbrio de um esporte que possui muitos atletas negros, mas poucos técnicos.


Ao mesmo tempo que é motivo de orgulho termos o único técnico negro da Série A, ficamos tristes que esse número seja tão baixo, ainda mais quando comparado à quantidade de atletas negros.

Consciente das desigualdades, a diretoria do Bahia vem promovendo campanhas de conscientização e combate ao racismo. Em novembro do ano passado, o clube homenageou personalidades negras. Na ação, que fez parte da celebração do Novembro Negro, os jogadores entraram em campo com camisas que tinha nomes de personagens históricos e também de baianos com contribuições para a afirmação do povo negro.

O Tricolor também sediou em 2018 o lançamento do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. Na ocasião, o diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial, que desde 2014 organiza o documento, Marcelo Carvalho afirmou que, em análise prévia, foram registrados 93 casos de discriminação em eventos esportivos no Brasil durante a temporada.


Bahia homenageou personalidades negras no Novembro Negro — Foto: Reprodução

Para Bellintani, o desafio atual do Bahia é o de levar os torcedores negros, e como indicado pelos números do PNAD Contínuo, mais pobres, de volta ao estádio. Ele citou as categorias populares do plano de sócios do clube como exemplo do que é possível fazer para resgatar essa parcela da torcida.


Criamos o Núcleo de Ações Afirmativas, em janeiro de 2018, tendo a questão racial como um dos grandes objetivos. Fizemos a série de ações do Novembro Negro e já estamos pensando em como ser ainda mais impactante e relevante em 2019. Porém, mais do que ações pontuais, estamos trabalhando para colocar nosso torcedor negro em maioria na Fonte Nova. Os estádios estavam elitizados e, invariavelmente, o negro é impactado com plano de sociais populares como o Bermuda e Camiseta e o Bahia da Massa.

O Bahia estreia no Campeonato Brasileiro no domingo, às 16h (de Brasília), na Arena Fonte Nova, em Salvador.

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Darlan Alves Lustosa é natural de Formosa do Rio Preto, no extremo Oeste da Bahia, onde construiu uma sólida trajetória de envolvimento comunitário e defesa dos direitos locais. Com registro profissional 6978/BA e longa experiência como escritor e jornalista, Darlan é um entusiasta da política como ferramenta de transformação social. Ao longo de sua carreira, tem se dedicado a reportagens e artigos que buscam informar, educar e inspirar os leitores a participarem ativamente da vida cívica.Além de escrever para o Portal do Cerrado, Darlan também é sindicalizado e participa ativamente de iniciativas que promovem o desenvolvimento regional e o fortalecimento das causas populares. Sua atuação inclui a organização de eventos, como o Seminário de Combate ao Racismo Institucional e a Palestra do Defensor Público do Estado da Bahia, ambos realizados em Formosa do Rio Preto, com o objetivo de incentivar o diálogo e a justiça social.Darlan acredita que informar é um ato de responsabilidade social, e seu compromisso com a verdade e a precisão jornalística se reflete em cada publicação. Ele vê o Portal do Cerrado não apenas como um canal de notícias, mas como uma plataforma para fortalecer a voz do Oeste da Bahia e dos seus habitantes.
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