Jalapão: Ontem & Hoje; Livro que retrata as transformações da região em 7 décadas, será lançado hoje em Formosa do Rio Preto.

Lançamento será hoje as 18h30 no auditório da Secretaria de Educação na Av. Bahia

Capa do Relatório de 1943 e o livro que será lançado hoje - Imagem: Terra Brasilis e FAP - Montagem: Portal do Cerrado

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por Darlan A. Lustosa com FAP

Setenta anos separa o estudo de dois geógrafos sobre a região do Jalapão no Tocantins e a região do Rio Preto na Bahia. O estudo é o resultado de uma expedição em 1943 do IBGE, tendo a frente o geógrafo Pedro Geiger, partindo da cidade de Barra do Rio Grande, passando por Formosa do Rio Preto na Bahia, que faz fronteira hoje, com o Tocantins e a dissertação de mestrado de Willian Guedes, pela Universidade Federal da Bahia – Ufba.

O livro Jalapão: Ontem & Hoje será lançado nesta sexta-feira às 18h30 no auditório na Av. Bahia, ao lado da Igreja de Nossa Senhora Aparecida em Formosa do Rio Preto.

Os dois períodos distintos da obra guardam profundas relações da história de um pedaço relevante do Brasil e as transformações geopolíticas ao longo dessas sete décadas. O professor Willian, destacam duas:

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A primeira é com relação aos rios, que perdem a função na região como o principal elemento no transporte e na comunicação. A segunda grande mudança é a introdução de uma agricultura moderna. Mas é uma atividade voltada principalmente para a exportação. A maioria da população no município não se beneficia dessa agricultura.

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A obra idealizada pelo professor carioca Pedro Pinchas Geiger, hoje com 96 anos, geógrafo com enorme importância para o país, surgiu com a proposta de unir o trabalho dele e a dissertação do mestrado do geógrafo baiano, Willian Guedes, após desenvolver pesquisa na região entre 2012 e 2014.

A busca por compreender as transformações no Jalapão e região do Rio Preto está entre as inspirações do livro. Ainda entre as mudanças, estão as que ocorreram em seus chapadões, por onde passou a excursão do IBGE em 1943. Antes, essas áreas eram cobertas pela vegetação intocada do cerrado e utilizadas coletivamente por comunidades tradicionais, cujo acesso era por meio do lombo de animais ou navegando por rios. Hoje, porém, a região está ocupada por modernas fazendas de soja e algodão, mas não reflete a mesma realidade na vida dos povos tradicionais.

A balsa que levou os membros da expedição, de Formosa, de volta | talos de Buriti em feixes amarrados. O povo olha os preparativos para a partida | Foto do Eng. G. S. Pereira

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“Acredito que esse livro seja uma viagem prazerosa no tempo e também um convite a refletir sobre os atuais processos globais que estão no cotidiano daquela região”, diz Menezes. “Leitura importante para entender as mudanças radicais que ocorreram em certas áreas do Jalapão e do seu entorno”, destaca ele.

De acordo com Willian, o livro extrapola os limites do que é o Jalapão, pois, segundo ele, apresenta dinâmicas desde a cidade de Barra, na foz do Rio Grande com o Rio São Francisco, e áreas do Piauí. “Isso é fundamental para entender o próprio Jalapão, é enriquecedor”, pondera o autor.

A descrição das paisagens feita por Geiger é uma porta de entrada para o debate de diversos processos sociais e naturais. A obra, no entanto, discute dinâmicas não só do Jalapão, mas de grande parte do seu entorno, passando por áreas do Piauí, Maranhão e do Vale do Rio Preto, na Bahia, até sua foz no Rio São Francisco.

Os animais acabam de ser descarregados e trouxeram mercadorias, desde o Boqueirão onde o vapor de Barreiras as descarregou, para o “seu” Pompilho que tem um bazar e que também é criador. Foto: Publicação no site journals.openedition.com

O município baiano de Formosa do Rio Preto, por onde percorreu a excursão do IBGE de 1943, teve a paisagem de suas chapadas transformadas pela expansão do agronegócio, algo impensado naquele período e que hoje é uma de suas características.

O livro abre uma discussão dessas mudanças e convida o leitor a refletir sobre questões importantes para o futuro do Jalapão e também do Brasil como um todo”,

Willian Guedes

Como parte dessas transformações que atingem o espaço agrícola do país e conforme as análises realizadas ao longo deste trabalho, pode-se concluir que, concomitantemente à modernização de parte do campo do município de Formosa do Rio Preto, há um consequente processo de fragmentação que abrange tanto seu espaço agrícola como o urbano, diz uma parte da sinópse do livro


São Marcelo foi a porta dos “gerais”. Era uma localidade situada na confluência do Sapão e Preto (…). O vapor do São Francisco vinha até São Marcelo. A localidade hoje está arrasada pelas lutas políticas, restando 3 a 4 famílias. Mas, é pelo vale do Sapão e pelo do Galhão, que ainda se fazem as comunicações entre a Bahia e Pedro Afonso. E Porto Nacional, e aí está a ocupação principal dos “gerais”.

Pedro Geiger destacando o aspecto da região em 1943

Pedro Geiger e Willian Menezes no lanamento do livro Jalapão: Ontem & Hoje em 1º de novembro de 2019 no Rio de Janeiro | Foto: Fundação Astrojildo Pereira

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Parte das observações da expedição de 1943 foram publicadas em um site em 2014 e estão colocadas do ponto de vista geográfico e das condições humanas à época, que remete as dificuldades de locomoção e as condições de extrema pobreza, exemplo das condições de moradia. Não que isto esteja dito, mas fica claro pelas informações fornecidas. Apesar das melhoras, 70 anos depois, se assemelha aquela década de 1940 do século passado. Grifo meu.

Moradia retratada no relatório da expedição em 1943 – Foto Darlan Alves Lustosa – Aldeia do Gerais em 2015.

com a Fundação Astrojildo Pereira

Sobre Darlan Alves Lustosa 8185 Artigos
Darlan Lustosa é formosense que gosta da escrita e acredita que a política é um meio de transformação da vida das pessoas.Vive e mora em Formosa do Rio Preto, no extremo Oeste da Bahia, com registro profissional 6978/BA e sindicalizado, sobretudo para fortalecer a causa e defender direitos.
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Manuela Rocha

Texto fantástico, parabéns!