por Martin Mayr Diácono Permanente da Diocese de Barreiras Coordenador Geral da Agência 10envolvimento
Estamos em plena campanha eleitoral. Não são poucos que enjoam das cantadas balizadas por apelos emotivos e ensaios marqueteiros. Porém, melhor do que frustrar-se com o vazio programático é tentar pautar o debate – com questionamentos e propostas.
É o que tem feito a “Rede Cerrado” – um conjunto de entidades brasileiras que lutam pelo bioma Cerrado. O Oeste Baiano faz parte deste contexto; a Agência 10envolvimento é filiada à “Rede Cerrado”.
No dia 4 de setembro deste ano, os/as candidatos/as à Presidência e ao Congresso Nacional receberam o documento “Estratégias Políticas para o Cerrado”, com 27 recomendações em defesa do bioma e dos povos e comunidades tradicionais nele inseridos. (veja http://redecerrado.org.br/wp-content/uploads/2018/09/Estrat_Polit_Cerrado_web2-final.pdf). O documento situa os/as candidatos/as sobre o quadro atual do bioma. Procura inspirar e compromete-los/as com a preservação do Cerrado e com um desenvolvimento sustentável nas regiões a ele pertencentes.
Será que os/as candidatos/as que disputam a representação do Oeste Baiano se interessam pelo documento referido? Será que têm consciência e atitude em relação ao ecossistema Cerrado que abriga, influi e faculta todos os processos vitais nas bacias do Carinhanha, Corrente e Grande?
Alguém tem conhecimento de posicionamentos dos/as candidatos/as em relação ao Cerrado? Pelo visto, não gostam de tocar no assunto – sabem que implica polêmicas. Em reuniões internas, a abordagem dos/as candidatos/as depende com quem estão reunidos/as. Essa é, ao menos, a impressão da Agência 10envolvimento.
Mas é importante saber o que os/as candidatos/as sabem, pensam, desejam em relação ao Cerrado. No dia dele, queremos dirigir umas perguntas aos/às aspirantes. São poucas perguntas, previamente contextualizadas. Por favor, candidata! Por gentileza, candidato!
- Indiscutivelmente, o oeste baiano se destaca pela produção de bens primários: soja, algodão, milho, etc. Os protagonistas do ramo querem aumentar substancialmente a área do plantio. Os governos (federal, estadual e municipal) sinalizam apoio a esse propósito. Duas perguntas: O/a candidato/a concorda ou discorda que o oeste baiano deve aumentar a aposta na produção de commodities? O/a candidato/a conhece país algum ou região alguma deste mundo que se firmou econômica, social e ambientalmente na base da produção de bens primários?
- Um estudo recente da Agência Nacional de Águas (ANA) sobre o aquífero Urucuia conclui que até o momento não há exploração insustentável das águas do Urucuia. No entanto, o mesmo estudo constata que a vazão efluente do aquífero vem diminuindo há anos. Isto aconteceria, em partes, pela conversão do cerrado nativo em área de plantio. Na média, os solos do Cerrado natural absorvem quatro ou cinco vezes mais água do que os solos de uso agropecuário. Ainda assim, diz o Dr. Evaristo Eduardo de Miranda, Coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da EMBRAPA, que os problemas hídricos em torno da crescente escassez e da má distribuição das águas no oeste baiano se resolverão através de mais irrigação. – O/a candidato/a concorda com essa afirmação? O/a candidato/a apoia o propósito da AIBA em (ao mínimo) dobrar a área irrigada no oeste baiano?
- Em qualquer canto do mundo, o grau da concentração fundiária aponta para o grau da desigualdade econômica e social. Pelos dados do IBGE, a concentração fundiária no oeste baiano segue aumentando cada vez mais. As glebas maiores engolem as glebas menores, a fim de obter as vantagens pelas escalas cada vez maiores. A principal estratégia complementar à concentração do domínio sobre a terra e as águas: aumentar a produtividade, baixar os custos. – O/a candidato/a concorda com o Plano Nacional de Desenvolvimento da região MATOPIBA que visa atrair o mais possível de capital privado para financiar o que interessa e promove o agronegócio de ponta? O/a candidato/a acha que o fortalecimento do agronegócio de ponta resultará em melhorias nas condições de vida para a população em geral?
- O mundo anda assustado com as mudanças climáticas. Ainda assim, há pesquisadores do tipo Luiz Carlos Molion. Contratado e muito bem pago por empresas (p.ex. Syngenta, John Deere, Casa do Adubo) e corporações agropecuárias (p.ex. Fundação Bahia), Molion prega que a ação do homem não causa maiores efeitos sobre o clima. É o contrário o que dizem os/as pesquisadores/as mais conceituados/as da comunidade científica internacional (veja ipcc.ch). Entre outras medidas de urgência, esses/as cientistas cobram mudanças profundas na gestão do solo, melhorarias nas práticas agrícolas, conservação de terras e costas e tecnologias de captura de carbono, sob pena de entrarmos numa catástrofe sem volta. – O/a candidato/a concorda com o ditado popular “Escolhe a música quem paga a banda”? O/a candidato/a acha certo ou errado o Estado da Bahia financiar um estudo da AIBA sobre a disponibilidade de água no oeste baiano, prevendo que esse estudo vire referencial para as concessões de captação de água?
- Brasil está no topo do ranking mundial de uso e consumo de agrotóxicos. No dia 6 de novembro de 2017, o Governo Federal liberou o uso do agrotóxico Benzoato de Emamectina. Priorizou a matança de lagartas, relativizou o grau de ameaça à saúde pública por este produto de efeito neurotóxico. Os representantes do agronegócio no oeste baiano vibraram. – O/a candidato/a acha que o Oeste Baiano dispõe de um sistema da vigilância sanitária suficientemente criterioso e independente? O/a candidato/a aprova ou desaprova os atuais benefícios fiscais ao mercado dos agrotóxicos, baixando por 60% a base de cálculo do ICMS e concedendo isenção total de IPI a determinados tipos de agrotóxicos?
No final, estimada candidata, prezado candidato, mais uma perguntinha, procurando compreender um pouco melhor o oeste baiano: No seu modo de perceber, quem governa a quem por aqui? As representações eleitas governam o agronegócio? Ou o agronegócio governa as representações eleitas?
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