Invisibilizados ao longo dos anos, os moradores do Buritizinho e Barra do Brejo, em Formosa do Rio Preto, na Bahia, começaram a ganhar a atenção recentemente. Antes era mais uma comunidade de povo preto, como Aldeia do Gerais e tantas outras, abandonadas por administrações com olhares insensíveis. Para fazer justiça, o reconhecimento por parte da Fundação Palmares, das comunidades remanescentes quilombolas, passou pelas mãos da Superintendência da Secretaria da Assistência Social na gestão de Termosires. A ideia foi encampada pela assistente social Roneide Saraiva, ainda que sem apoio institucional, mas celebrada pela administração na época quando o reconhecimento saiu.
Desde então, o povo preto do Buritizinho virou xodó, ainda que com ações pontuais, muito mais político-partidária, do que vislumbrando o desenvolvimento da comunidade. Haja vista que ações como horta comunitária ou um viveiro ali implantados, ainda não geraram grandes frutos. É preciso criar independência financeira no povo que ao longo do tempo foi subjugado.
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O Ministério Público Federal, afirma que “uma das marcas mais belas da Constituição Federal de 1988 é seu nítido caráter fraternal. A primeira ideia que vem à mente quando se pensa em fraternidade é a de ajuda desinteressada ao próximo, reconhecendo-se alguma dificuldade deste em se manter, pelo menos momentaneamente, através de suas próprias forças. Esse é o fundamento básico, por exemplo, das ações afirmativas.”
Antes, uma apresentação ainda em 2014 em um seminário sobre racismo institucional no Ceterp, chamou a atenção de funcionários e colabores da Secretária Estadual do Trabalho, Emprego e Renda. Dalí em diante, foram diversos convites para apresentações culturais e presença constante em eventos na cidade. Até então, a cultura do povo preto com suas canções, sambas e tradição ficavam muito limitadas a própria região. É preciso lembrar, que a insistência de Zé Raimundo, Milton, Dona Domingas, Abenilda, Rosa e Manoel Toco, são molas propulsoras para que se mantivesse viva as tradições, agora mais do que nunca encorporadas pelas novas gerações.
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Durante os estudos, com as pesquisas de campo, entrevistas com moradores, viagens ao Sul do Piauí para descobertas das origens e o próprio processo de conscientização levaram tempo. Hoje percebe-se orgulho na comunidade que se veste de pertencimento. Mas ainda é necessário que se mostre as origens, como uma África, onde reis e rainhas imperavam e era altamente desenvolvida. Estudos apontam que a primeira universidade foi fundada no Marrocos em 859 d.C..
Mas é preciso entender, que somente a certificação não é suficiente para criar autonomia e propiciar uma vida digna e muito melhor. Sob a tutela de uma recém-criada Coordenação de Povos Tradicionais, ainda que louvável a iniciativa do governo Neo, é necessário avançar. Desde seu reconhecimento em 2018, o processo nada ou pouco avançou. É preciso ainda titularização das terras, catalogar a cultura, religiosidade e promover o desenvolvimento e emancipação. Fazer mostrar a arte, a cultura, mas deixar o povo viver na pobreza não é fazer política. Vamos dignificar a vida do povo.
É necessário também pensar em comunidades ribeirinhas como a própria Aldeia do Gerais, que enfrenta desde a falta do abastecimento de água e sua luta para manter suas terras, numa briga que já dura anos com grandes conglomerados agrícolas, mas sem a participação política do município que os abandonou ao “Deus dará”.
Por fim, é preciso garantir a todos e principalmente aos mais carentes, o direito a moradia digna, a sobrevivência, acesso à educação com mais qualidade e saúde. Sem itens básicos garantidos em Lei, não haverá desenvolvimento e a ideia de igualdade entre os povos. Sem o básico não há felicidade e nem sorriso que perdure.