Analise ( ' )
Diante de mais um crime, chamado de tragédia como a que aconteceu ontem (25) em Brumadinho (MG) o povo brasileiro, continua a esperar novas desgraças, pacificamente sem se mobilizar. A Justiça tem sempre existido para uma espécie de proteção ao patronato. A política existe não para cuidar de povo, mas para cuidar de empresas, assim como faz a Justiça brasileira.
Agora, é só esperar a nova tragédia. É certo que ela não demorará acontecer e de novo haverá uma mobilização nacional para ajuda imediata e logo esquecida como foi esquecida a tragédia de Mariana.
Desde ontem (25) o Brasil observa a desgraça que se abate sobre a pequena Brumadinho (MG, três anos após o desastre de Mariana também nas Minas Gerais quando um dique, também da Vale do Rio Doce rompeu, tirando a vida de 19 pessoas, deixando sequelas e danos irreparáveis ao meio ambiente (meio ambiente, inclui pessoas). Ontem, o Brasil ficou de joelhos aos olhos do mundo. Aos olhos de brasileiros, a morte parece não mais assustar ou por estar distante da figura própria, há somente uma comoção momentânea. No crime que aconteceu ontem, fala-se em mais de 300 pessoas mortas. O que se ver é tão somente uma mobilização de uma parte da população para atender necessidades imediatas, diante da tragédia que certamente deveria e poderia ser evitada. Fora isso não existe mobilização por parte da sociedade para exigir providências de autoridades, até aqui, dita como competentes.
Ainda ontem, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman disse que “com enorme pesar dizemos que isto é uma enorme tragédia, que nos pegou totalmente de surpresa. Estou completamente dilacerado com o que aconteceu”.
Não se pode acreditar nas palavras do presidente da Vale. A não ser pela perda financeira.
O presidente Jair Bolsonaro disse, quando ficou sabendo do rompimento da barragem que “depois de Mariana, a gente esperava que não tivesse uma outra (tragédia). Mas infelizmente temos esse problema agora”. Hoje o presidente sobrevoou a área atingida pelos dejetos.
Qualquer pessoa sabe, que se não há prevenção e responsabilidades no trato da coisa pública, tragédias continuarão a ser repetidas. Esperar que não aconteça é uma coisa, punir com rigidez os criminosos é outra. O cumprimento de normas exigidas pelos órgãos públicos e responsabilidade, certamente evitaria a repetição de tragédias que sempre mata o brasileiro.
Mas o “acidente” de ontem elevou o tom do debate no governo sobre a gestão ambiental de um Bolsonaro que sempre demostrou desdenhar da situação e cogitou acabar com o Ministério do Meio Ambiente. Até ontem o governo havia demonstrado a intenção de flexibilizar o licenciamento ambiental e dar mais autonomia as empresas para gestão de projetos que demandem a gestão de recursos naturais.
Para Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, acidentes como este não são casuais. “Tragédias dessa magnitude não são acidentes, são crimes”, disse ela à revista Época, um lema que correu as redes sociais. “
Um ditado africano diz que “sábios são os que aprendem com os erros dos outros e estúpidos os que não aprendem nem com seus próprios erros”. ##BrumadinhoChegadeimpunidade #BrumadinhoMG https://t.co/4s7sasmTd1
— Marina Silva (@MarinaSilva) January 26, 2019
“Que a tragédia de Brumadinho abra os olhos do Governo. Meio ambiente não é zoeira de esquerda: é respeito à vida das pessoas e do planeta. O Governo deve regular e fiscalizar com mais energia sem demonizar quem disso se ocupa”, escreveu o ex-presidente Fernando Henrique no Twitter.
Que a tragédia de Brumadinho abra os olhos do governo. Meio ambiente não é zoeira de esquerda: é respeito à vida das pessoas e do planeta. O Governo deve regular e fiscalizar com mais energia sem demonizar quem disso se ocupa. Solidariedade às vítimas, mais ação para o futuro.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) January 26, 2019
O julgamento de 21 diretores e ex-diretores da Samarco, Vale e BHP BIliton, iniciado em 2016, chegou a ser suspenso em julho de 2017 como mostra uma reportagem do “El País” (Justiça suspende ação que pode punir responsáveis por tragédia de Mariana ). Na época, os defensores disseram que foram cometidos excessos na investigação, como por exemplo o monitoramento telefônico de seus clientes por um prazo maior do que o autorizado pela Justiça, diante de 19 mortes, para a Justiça brasileira isso é mais grave. Em novembro, outro juiz, Jacques de Queiroz Ferreira, no entanto, retomou o caso (Julgamento da tragédia de Mariana volta a andar após cinco meses parado ). Além de uma série de multas ambientais, as três empresas também fecharam acordo com o Ministério Público de Minas Gerais com relação ao pagamento de indenizações para familiares das vítimas e dos que perderam casas. A Samarco também precisou se comprometer a pagar indenizações para os pescadores que viram seu sustento desaparecer com os danos à bacia hidrográfica da região.