Aos 93 anos, Antusa, professora aposentada da UFBA, recebe homenagem em Formosa do Rio Preto

A Homenagem foi feita pela Academia de Letras de Formosa do Rio Preto (ALEF) e emocionou os presentes com a memória afetuosa sobre uma Formosa do Rio Preto da década de 50.

Antusa Araújo da Silva - Foto: Portal do Cerrado

Texto de Lílian Nogueira

Era o ano de 1952, quando aos vinte e três anos, a formosense deixava o distrito, que naquele tempo ainda se chamava Itajuí pertencente a Santa Rita de Cássia e seguia para desbravar um novo mundo na capital baiana. Da pequena vila que se desenvolveu e virou cidade, Antusa, conquistou o título máximo de Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo- USP. Como professora da Universidade Federal da Bahia , participou da formação de alunos ligados a área da saúde: medicina, farmácia, odontologia, enfermagem, nutrição e biologia. Tendo entre esses alunos dois médicos de nossa região: Dr Termosires Dias (filho de Formosa), e Dr Saulo Pedrosa( de Barreiras), pessoas muito conhecidas da nossa região, que se tornaram prefeitos das referidas cidades.

Aos 93 anos de idade, com tamanha lucidez, a mulher que tem em seu nome o significado de riso(como disse Marinelia Santos que tão bem conduziu a homenagem), foi a primeira da nossa região a cursar uma universidade e conquistar o título de Doutora em Ciências. Antusa falou de sua trajetória de vida e da fé que a acompanha. Nascida em um lar cristão, saiu para estudar na cidade de Corrente ( PI) aos 12 anos de idade onde conheceu Jesus Cristo como Salvador e Senhor, decisão essa que norteou a sua vida para sempre!

Afetuosa, lembrou com saudade dos amigos de infância que já se foram, como Dante França e dos irmãos Carvalho, Jansem e Vilmar, dentre outros. Falou das dificuldades que era estudar naquela época na pequena vila, lembrando das primeiras professoras diplomadas que chegaram a Formosa; Joana Camandaroba, Alzira Camandaroba ( vieram da cidade de Barra do Rio Grande) Angelina ( da cidade de Salvador), sendo esta última a sua primeira professora. Depois frequentou a escola de Hilda Barbosa (professora leiga) e foi aluna da excepcional professora Rosita Teixeira, que lembrou de saudosa memória. “Tudo que se tem escrito sobre ela, ainda é pouco, considerando-se o muito que fez pela educação dessa cidade,” reconhece a doutora pela USP.

Lembrou que a sua geração foi feliz, curtia bastante as águas do Rio Preto e foram criadas sem participar dos problemas que afligiam os familiares adultos, o que é bem diferente dos dias atuais, onde as crianças desde de muito cedo acompanham e participam ativamente dos problemas da vida adulta (seja pelas mídias ou mesmo pelo testemunho dentro das moradias).

Dando continuidade aos estudos foi para o Instituto Batista Industrial onde começou cursar a quinta série, tendo como professor Antônio Augusto Soares filho de Formosa do Rio Preto, grande musicista. Trouxe à memória, o Ministro da Educação Clemente Mariane, filho da cidade de Barra, que possibilitou a abertura de ginásios pelo interior do Brasil, sendo a cidade de Corrente (PI) uma das contempladas. Em 1947 o Instituto passou a ser Ginásio do Instituto Batista Industrial, hoje Instituto Batista Correntino.

Em companhia de Valtercio Serpa que já estudava em Salvador, foi ao encontro do seu irmão José Augusto da Silva, se deslocou para nossa capital em 17 de março de 1951, chegando lá com um grande sonho na cabeça que era cursar a Faculdade Federal de Farmácia. Por se interessar pela área de saúde, ingressou como interna no Colégio Carneiro Ribeiro. Como em Formosa não existia banco, os envios de dinheiro para as despesas eram realizados por seu pai Joaquim Augusto da Silva, facilitado pelo obséquio de Orlando Cesar, então quando se tornou prefeito de Formosa do Rio Preto, que tinha o cunhado com escritório em Salvador. Após o primeiro ano do curso colegial, por obter a maior média da turma, foi contemplada com uma bolsa de estudo pelos dois anos seguintes, quando concluiria o curso. A mesma se destacou tanto na matéria de física que recebeu o convite do diretor, professor Pedro Pereira para dar aulas da referida disciplina como auxiliar dele, no colégio Ipiranga.

Em 1955 aprovada no vestibular de farmácia pela Universidade Federal da Bahia, passou em quarto lugar, havendo apenas diferenças de décimos entre os candidatos. Ingressou na faculdade, realizando assim o sonho do seu saudoso pai, que praticava de maneira empírica a medicina em nossa cidade.

Concluiu a Faculdade de Farmácia em 14-12-1958 e em 05-05-1959, foi contratada para o seu primeiro emprego na Fundação Gonçalo Muniz, onde já havia sido estagiária na área de Análises Clínicas. Depois de formada passou a trabalhar na área de protozoologia, onde teve a oportunidade de trabalhar com um dos grandes pesquisadores de reconhecimento internacional Dr Samuel Bansley Pessoa, professor catedrático de parasitologia da USP. Com ele publicou seu primeiro trabalho de pesquisa científica como auxiliar.

O estudo foi sempre uma paixão em sua vida, a fome do conhecimento a impulsionava a querer ir cada vez mais longe e assim em 1.964 foi para São Paulo realizar especialização em Parasitologia na PUC. Em 1.974 recebeu o título de Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG, em 1982 o título de Doutora em Ciências pela USP.
Permaneceu dando aula na Universidade Federal da Bahia até se aposentar em 1996, aos 67 anos de idade. Já aposentada prestou consultoria ao Centro de Controle de Zoonoses do município de Salvador durante 2 anos.
Amar a Deus e ao próximo foi sempre uma máxima em sua vida, exemplo que aprendeu na prática com os seus pais. A partir do caminho percorrido conseguiu auxiliar com assistência médica a muitos conterrâneos.
A homenageada terminou a sua fala, estimulando a juventude a estudar e apontando esse caminho como a melhor escolha para se vencer na vida!

Abertura Chico Serpa decano da advocacia formosense, presidente da Alef*. Ainda presentes, o juiz do Município Drº Edson, o capitão Augusto Baeta Comandante da 86ª CIPM, Presidente da APLF Pr. Edinalvo Dias Miranda, Secretária Municipal Da Cultura Rosilene Carvalho, e o ex-prefeito Dr. Termosires Dias Neto.

Vale a pena ouvir o depoimento da professora Antusa. O vídeo da Alef* foi editado para publicar somente a parte da fala. O vídeo completo está no link no final.

Alef – Academia de Letras de Formosa do Rio Preto

Texto: Professora Maria Augusta Serpa

O desejo de fundar a Academia de Letras de Formosa do Rio Preto partiu do sonho da Professora Maria Augusta Serpa que sempre foi apaixonada pela leitura e escrita, paixão que foi despertada por uma avó que tinha uma pequena biblioteca no quartinho escuro de sua casa que servia para seus netos fazerem pesquisas e por um tio que devorava jornais e revistas.

O sonho da professora se juntou com o sonho da jornalista Almerice Rodrigues que ama escrever e também é muito apaixonada pela cultura do povo de Formosa do Rio Preto e mais uma professora apaixonada pela literatura foi fundamental para tornar esse sonho possível, Juçara Cox.

Mas só essas três sonhadoras não poderiam concretizar esse sonho, pois seria preciso que o povo de Formosa do Rio Preto abraçasse a causa e tivesse o desejo de embarcar conosco nesse sonho e por isso convidamos outras pessoas apaixonadas pela Literatura, Arte e Música para então fundar a nossa ALEF, tendo como principal objetivo congregar pessoas que se dediquem às atividades literárias e artísticas nas mais diversas formas de expressão.

E foi com esse objetivo que no dia 06 de novembro de 2019, fundamos a ALEF e elegemos a primeira diretoria da Academia de Letras de Formosa do Rio Preto, sendo a Presidente Maria Augusta Serpa, Vice-presidente Almerice Rodrigues e a Secretária Juçara Cox. No momento da fundação a intenção era contemplar 30 membros, que participariam de um momento solene em março de 2020.

Logo após a fundação, a ALEF participou de algumas atividades em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Secretaria Municipal de Cultura, com destaque para o Projeto Formoso é o rio que flui por múltiplas leituras , contação de histórias nas Unidades Escolares e participação no Conselho Municipal de Cultura.

No dia 09 de dezembro de 2019, aconteceu uma reunião para pontuar a necessidade de um local para as reuniões da ALEF, uma possível sede, escolha do brasão e elaboração de um plano de ação para 2020.

Em janeiro de 2020, a ALEF em parceria com Associação Pró-Cultura organizou o lançamento do livro O Jalapão ontem e hoje de Pedro Geiger e Willian Defensor Menezes. Em fevereiro de 2020, aconteceu mais uma reunião para escolha do traje oficial da ALEF.

No entanto, antes mesmo que o momento solene acontecesse, o mundo foi acometido por uma pandemia e as atividades culturais foram interrompidas em todo o mundo e assim foram suspensas as atividades da ALEF.

Em dezembro de 2020, a Presidente Maria Augusta Serpa, mudou-se da cidade e precisou abrir mão da presidência, já que segundo o estatuto da ALEF para ocupar qualquer função na diretoria é preciso residir no referido município. Dessa forma, a Vice-Presidente Almerice Rodrigues passou a ocupar a função, mas por motivo de saúde precisou deixar a presidência. E com o afastamento da mesma, alguns membros se mobilizaram e fundaram uma diretoria provisória que logo depois se tornou permanente. E agora que as atividades culturais já estão sendo retomadas, a ALEF volta com toda força para fomentar a Literatura e a Cultura em Formosa do Rio Preto. Tendo agora como Presidente Francisco Lisboa Serpa, Vice-Presidente Eromar Bomfim e Secretária Valdélia Bomfim, retomando as atividades de forma brilhante com a homenagem à Doutora Antusa de Araújo da Silva. Justa homenagem

Vídeo completo

Sobre Darlan Alves Lustosa 7979 Artigos
Darlan Lustosa é formosense que gosta da escrita e acredita que a política é um meio de transformação da vida das pessoas.Vive e mora em Formosa do Rio Preto, no extremo Oeste da Bahia, com registro profissional 6978/BA e sindicalizado, sobretudo para fortalecer a causa e defender direitos.
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