Por Catiane Magalhães
O que faz e como vivem os candidatos fora do período de eleição? Esses questionamentos embasaram um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no qual o órgão revela que a maioria não é “político de profissão” e que desempenha uma atividade já consolidada. No topo da lista estão empresários e advogados, representando um a cada cinco postulante a cargos eletivos no pleito de 2022. Esses dois grupos já representavam a maior proporção na disputa de 2018 e aumentaram significativamente a participação neste ano.
Segundo os números do TSE, se comparado às últimas eleições, o número de candidatos que se declaram empresários subiu 20%. Já o de advogados foi incrementado em 12%. Outras profissões, como policial militar e jornalista, também ampliaram suas participações no processo eleitoral.
O levantamento reflete o resultado de outra pesquisa, desta vez com o eleitorado: quase 90% dos entrevistados demonstraram desejo por renovação política no Congresso. Entre as qualidades desejadas nos representantes, a população elegeu, nesta ordem, qualificação política, honestidade e comprometimento para cumprir as promessas de campanha. Na avaliação da maioria dos eleitores, advogados são os que melhor atendem o quesito qualificação política, devido à formação profissional e o conhecimento às leis. Há quatro anos 1.828 advogados registraram candidaturas. Nesta eleição, o número saltou para 2.049.
A advogada Júlia Oliveira engrossa essa estatística. Como eleitora, ele disse que sempre buscou escolher seus representantes pelo currículo profissional e pela conduta pessoal. No seu entendimento, se preparar para disputa é fundamental para saber atuar com ética e não se corromper ao sistema. Júlia trilhou a sua trajetória de qualificação política e, agora, lança candidatura a deputada federal, com uma campanha pautada na transparência, combate à corrupção, políticas públicas para mulheres e jovens e no ativismo ambiental.
“A gente pratica política cotidianamente, mesmo sem perceber ou saber que determinados posicionamentos são políticos. Mas para fazer disso uma profissão, para exercer corretamente, para, enfim, fazer a diferença que tanto queremos, é preciso estudar muito. Não dá para cair de paraquedas em um cargo cujo poder de decisão pode mudar a vida de muita gente. Política não nos dá o direito de tomarmos decisões equivocadas, porque as consequências podem ser desastrosas para o coletivo. Se qualificar é muito importante, mas não é suficiente. Os predicados pessoais, a exemplo de honestidade, credibilidade e transparência também devem ser observados”, avalia a líder dos movimentos Acredito, Renova BR e Vamos Juntas.
Sua candidatura pontua em dois grupos: no de advogados e no de mulheres na política, outro grupo que também cresceu neste cenário, seja por incentivo pelos partidos em observância da lei de cotas, seja por iniciativa própria. No quesito credibilidade, o eleitorado vê com bons olhos a participação do público feminino nos processos eleitorais. Um estudo da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, revelou que a corrupção é reduzida onde há mais mulheres na política.
De acordo com o levantamento, enquanto advogados, empresários, policiais e jornalistas aumentaram o número de candidaturas nesta eleição, a ocupação de donas de casa caiu 23% e a de professores e estudantes ultrapassam a casa dos 30%.
Ao G1, o professor e cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adriano Codato explicou que o perfil social dos candidatos está associado a três fatores: regras eleitorais, estratégias partidárias e o tipo de financiamento das campanhas. Enquanto as regras podem limitar ou ampliar a participação de diferentes grupos, as estratégias dos partidos podem ser direcionadas para, por exemplo, a aposta em celebridades, políticos profissionais e com experiência. O professor da UFPR chama atenção para o fato de que cerca de 70% dos eleitos quase sempre são ocupantes de algum cargo eletivo ou de confiança no mundo político.