Mãe Stella: A enfermeira, escritora e a mulher que cuidou de um povo

Foto: Manu Dias || Agecom
com informações do Correio*

Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kayodé, foi a quinta ialorixá a comandar o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá fundado em 1910 por Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha. Ela nasceu Maria Stella de Azevedo Santos, em 02 de maio de 1925. Enfermeira de formação e também escritora, publicou seu primeiro livro em 1988. Chamado E daí Aconteceu o Encanto, o livro foi escrito em parceria com Cléo Martins e traz histórias sobre as origens do Opô Afonjá e das primeiras ialorixás que comandaram a casa. 

Mãe Stella também é autora dos volumes Meu tempo é agora (1993); Òsósi – O caçador de alegrias (2006) que traz ìtans (narrativas míticas) de Oxóssi, seu orixá regente; Òwe-Provérbios (2007), uma coletânea de ditos em Iorubá e brasileiros acompanhados das interpretações da escritora; o infantil  Epé laiyé – terra viva(2009), que narra a história de uma árvore que ganha pernas; e Opinião(2012), reunião de crônicas selecionadas entre as que a ialorixá publicou na imprensa baiana.

Defensora da cultura negra, foi agraciada com diversos títulos, como o de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (2005) e da Universidade do Estado da Bahia (2009). Em 2013, foi eleita para a Academia de Letras da Bahia, onde tomou posse da cadeira número 33 – já havia sido ocupada pelos escritores Castro Alves e Ubiratan Castro de Araújo.

 

Repercussão
O prefeito ACM Neto lamentou a morte de Mãe Stella e disse que vai organizar uma homenagem que “eternize o nome e obra” da ialorixá , “venerável sacerdotiza”, de acordo com o prefeito de Salvador. 

“Lamento profundamente o falecimento de Mãe Stella. Sem dúvida alguma, um dos maiores nomes da fé e da religiosidade da Bahia. Eu tive uma particular relação com ela, aprendi com ela, foi uma pessoa que nos encantou sempre com sua sabedoria, com seu brilho, seu conhecimento, com a sua cultura. Mãe Stella deixa, portanto, uma marca nos corações dos baianos”, lamentou Neto. 

“Sob a sua liderança, o Ilê Axé Opó Afonjá ganhou dimensão cultural, como um importante centro de preservação da religiosidade afro-brasileira, desenvolvendo ainda um grande e inestimável trabalho social em Salvador. Profunda estudiosa do universo dos orixás e intelectual ativa, Mãe Stella nos lega ainda uma prolífica obra, expressa em livros e artigos, sobre a nossa herança africana. É uma estrela que nos guiou na terra e agora sobe para brilhar no céu. Que Deus conforte os familiares e amigos de Mãe Stella neste momento de profunda dor”, concluiu o prefeito.

Pelas redes sociais,  o governador da Bahia, Rui Costa,  também manifestou condolências à família de Mãe Stella, a quem se referiu como ” as maiores personalidades da história da Bahia”.

“Fato que deixa todos nós imensamente entristecidos. Referência de respeito e sabedoria, a yalorixá sempre nos orgulhou pela atuação firme contra a intolerância religiosa e o racismo. À frente do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, manteve as portas abertas para aqueles que buscaram orientação espiritual e intelectual”, destacou o governador. 

E lembrou: “Mulher forte e de resistência, Mãe Stella também deixou sua marca como escritora. Se tornou a primeira sacerdotisa da religião de matriz africana a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia. Que seus ensinamentos e a paz que tanto pregou continuem sempre conosco. Sem nenhuma dúvida, vai fazer muita falta à Bahia. “. 

“Uma das mais importantes e emblemáticas ialorixás da Bahia nos deixou. A mãe do conhecimento, da filosofia, a mãe de santo: Mãe Stella de Oxossi. Òke Aro, Mãe Stella. Vá em paz! Axé!!!, disse a cantora Daniela Mercury, em seu perfil no Twitter.

 

O deputado federal Jean Wyllys também manifestou “profunda tristeza” por meio das redes sociais. “Para vocês terem uma ideia da importância histórica do trabalho de Mãe Stella: Jorge Amado, ateu convicto, que garantiu a liberdade de crença na Constituição Federal quando deputado federal na Constituinte de 46, era Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Afonjá”, disse, em referência ao terreiro comandado por Mãe Stella, ao longo da vida. 

“Mãe Stella de Oxóssi deu, ao longo de toda a sua vida, uma importante contribuição para preservar aspectos da nossa cultura. Meus abraços fraternos à família de Mãe Stella de Oxóssi, aos amigos e a todo o povo da Bahia, em especial ao Ilê Axé Opó Afonjá”escreveu Wyllys em post no Instagram.

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É com profunda tristeza que recebo a notícia do falecimento da Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, um dos terreiros mais importantes do Brasil e um dos mais antigos que se tem notícia – um patrimônio nacional reconhecido pelo Iphan por ser símbolo da resistência cultural dos descendentes dos africanos escravizados em nosso país. Dos 80 anos de sua vida dedicados ao candomblé, ela dedicou 42 a frente deste histórico terreiro localizado em Salvador, se tornando uma importante e respeitada líder religiosa em todo o país. Para vocês terem uma ideia da importância histórica do trabalho de Mãe Stella: Jorge Amado, ateu convicto, que garantiu a liberdade de crença na Constituição Federal quando deputado federal na Constituinte de 46, era Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Afonjá. Ela escreveu diversos livros, construiu escolas, bibliotecas, idealizou o museu Ilê Ohun Lailai (Casa das coisas antigas), pregou a necessidade do registro escrito contra os lapsos de memória e contribui para pesquisas em torno da temática do candomblé. A identidade cultural do nosso país é forjada por contribuições de diversos povos – desde os povos originários, passando pelos nossos colonizadores, até os povos da África subsaariana que aqui foram escravizados. Mãe Stella de Oxóssi deu, ao longo de toda a sua vida, uma importante contribuição para preservar aspectos da nossa cultura. Meus abraços fraternos à família de Mãe Stella de Oxóssi, aos amigos e a todo o povo da Bahia, em especial ao Ilê Axé Opó Afonjá. ?@antonelloveneri

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Sobre Darlan Alves Lustosa 7950 Artigos
Darlan Lustosa é formosense que gosta da escrita e acredita que a política é um meio de transformação da vida das pessoas.Vive e mora em Formosa do Rio Preto, no extremo Oeste da Bahia, com registro profissional 6978/BA e sindicalizado, sobretudo para fortalecer a causa e defender direitos.
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