O estudante das instituiรงรตes de ensino superior brasileiras tรชm um perfil bastante definido: รฉ branco, do sexo feminino, com idade entre 19 e 24 anos, estuda em instituiรงรตes privadas ร noite, fez o ensino mรฉdio em escola pรบblica, mora com os pais e tem de trabalhar para ter uma renda de atรฉ dois salรกrios mรญnimos.
Tanto nas instituiรงรตes de ensino superior pรบblicas como nas privadas, a maior parte dos alunos รฉ proveniente do ensino mรฉdio pรบblico. No caso do ensino superior privado, 68,5% dos alunos vieram do ensino mรฉdio pรบblico e 31,5% do privado. Jรก nas instituiรงรตes de ensino superior pรบblico, 60,1% veio do ensino mรฉdio pรบblico; e 39,9% do ensino mรฉdio privado. ร o que mostra o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2020, divulgado hoje (21) pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior Privado (Semesp). O instituto รฉ uma entidade que tem, entre seus objetivos, o de โpreservar, proteger e defenderโ o segmento privado do ensino superior brasileiro.
Maioria feminina
De acordo com o levantamento, 57% dos estudantes matriculados em instituiรงรตes de ensino superior sรฃo mulheres. Nos cursos de licenciatura, por exemplo, elas ocupam 71,3% das vagas. Nos cursos de bacharelado, esse nรบmero รฉ de 54,9%; e nos da รกrea de Saรบde e Bem-Estar, elas sรฃo 72,1% dos estudantes.
As mulheres sรฃo tambรฉm maioria na รกrea de Ciรชncias Sociais, Jornalismo e Informaรงรฃo. Entre os cursos com maior predominรขncia de mulheres estรก o de Pedagogia (92,5%); Serviรงo Social (89,9%); Nutriรงรฃo (84,1%); Enfermagem (83,8%); Psicologia (79,9%) e Fisioterapia (78,3%).
Ensino excludente e desigualdade
Do total de alunos matriculados nos cursos presenciais ofertados por instituiรงรตes de ensino superior em 2018, 55% e 48,8% sรฃo brancos, nas entidades privadas e pรบblicas, respectivamente โ enquanto o de pessoas que se declaravam de cor preta estavam em 11% nas pรบblicas, e em 7,9% nas privadas. O percentual de pardos passou de 27%, em 2010, para 34% nas privadas; e de 27,6% para 36,9% nas pรบblicas.
โInfelizmente o ensino superior brasileiro รฉ excludente e, apesar das polรญticas de cotas terem funcionado para minimizar o problema, a questรฃo do acesso ร s populaรงรตes da raรงa/cor preta e parda ainda estรก longe de ser resolvidaโ, avalia o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, ao informar que apenas 14,7% dos jovens entre 18 e 24 anos que se autodeclaram pretos e 11,7% dos que se autodeclaram pardos estรฃo matriculados em uma graduaรงรฃo.
A desigualdade social do paรญs fica claramente retratada no estudo. A classe E corresponde a 44,9% da populaรงรฃo brasileira com idade entre 18 e 24 anos. No entanto, corresponde a apenas 24,7% das pessoas da mesma faixa etรกria matriculada no ensino superior. Jรก as classes A, B e C โ que segundo o levantamento correspondem respectivamente a 0,4%, 2,8% e 24% da populaรงรฃo brasileira com essa faixa etรกria โ ocupam 1,3% e 8,1% e 38% das matrรญculas, respectivamente.
O estudo aponta que quanto maior a classe social, maior a condiรงรฃo de cursar o ensino superior: 61,9% dos jovens de 18 a 24 anos da classe A (que possuem renda domiciliar de mais de oito salรกrios-mรญnimos) frequentam o ensino superior, enquanto que apenas 10,5% dos jovens da classe E (com renda domiciliar de atรฉ meio salรกrio-mรญnimo) acessam uma graduaรงรฃo. Trรชs a cada quatro alunos de 18 a 24 anos da classe C que frequentam o ensino superior estรฃo matriculados em uma instituiรงรฃo de ensino superior privada.
As classes D e E (com faixas de renda com atรฉ um salรกrio-mรญnimo) aumentaram a participaรงรฃo no ensino superior no perรญodo de 2012 a 2018, considerando a idade de 18 a 24 anos, que serve de base para o cรกlculo da taxa de escolarizaรงรฃo lรญquida.
No caso dos alunos de classe E, o aumento do nรบmero de alunos que se encontram nessa faixa etรกria (no perรญodo 2012-2018) chegou a 64,5%, passando de 651,4 mil para mais de 1 milhรฃo. No caso dos alunos que pertencem ร classe D, o aumento ficou em 50,2%, passando de 700,1 mil matrรญculas para mais de 1,2 milhรฃo.