Cinema negro ganha força no Festival de Brasília

Cena do filme Eu, minha Mãe e Wallace com Fabrício Boliveira que escreverá com exclusividade para o Portal do Cerrado (Divulgação/Festival de Brasília do Cinema Brasileiro)

O Festival de Brasília recebeu este ano inscrições de maior número de filmes dirigidos por negros e conta com nova premiação, específica para contemplar a temática negra no cinema. O Prêmio Zózimo Bulbul foi anunciado durante a apresentação dos selecionados para a edição deste ano, que acontece entre os dias 14 e 23 de setembro na capital federal.

“O prêmio vai destacar um filme dentro da programação, a partir de critérios da presença e força da representação das personagens, da história e de uma série de questões que serão discutidas pelo júri para buscar esse destaque do filme a partir das questões negras, presentes na tela das produções que serão exibidas”, anunciou o diretor artístico do festival, Eduardo Valente, na última quarta-feira (8).

Este ano foram inscritos mais filmes sobre a temática ,e eles aparecem também com um percentual maior entre os filmes selecionados, segundo o diretor. Dos filmes inscritos para esta edição do festival, 68% foram dirigidos por brancos e 11% por negros. Com relação aos filmes selecionados para a mostra competitiva, os percentuais ficam em 61% de brancos, 28% de negros e 9% que não quiseram declarar.

Debate

A edição anterior  do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi marcada por forte discussão sobre a representação de pessoas negras nas telas de cinema, assim como sua participação nas diferentes etapas da realização de uma obra audiovisual, em especial no roteiro e direção.

O debate aumentou com o longa-metragem Vazante, de Daniela Thomas, criticado pelo papel secundário atribuído aos personagens negros, em uma trama com recorte histórico que aborda o período da escravidão no Brasil.

Valente acredita que a discussão específica sobre o filme de Thomas ganhou dimensão maior por uma série de circunstâncias, mas considera que o debate dessa questão já se desenhava pelo menos desde a edição anterior, de 2016, que contou com uma mesa de discussão sobre a produção das minorias étnicas e raciais.

“A dimensão principal, que nos chamou a atenção positivamente e que acho que teve a ver um pouco com o que aconteceu no ano passado – não quero superdimensionar por entender que aquilo é parte de um processo -, foi o aumento realmente percentual, a força e de qualidade inclusive da produção apresentada por profissionais negros atrás das câmeras”, afirmou Valente.

Momento atual

Para a diretora Glenda Nicácio, as discussões que ocorreram na edição anterior do festival eram urgentes e representam o momento atual dos negros no país, com políticas públicas de acesso a universidades e de regionalização da produção cinematográfica, assim com o barateamento dos equipamentos e acesso às tecnologias digitais.

“São vários fatores que fizeram com que esse público fosse se modificando e mudando de lugar. Quem antes era apenas público, hoje também é produtor, também pensa cinema, tem acesso e pode fazer. Isso é transformador, porque faz com que coisas que aparentemente eram muito naturais comecem a ser questionadas”, afirmou à Agência Brasil.

Ela acredita que esses fatores possibilitam uma diversidade de voz e conteúdo na produção audiovisual brasileira e que o prêmio Zózimo Bulbul demarca esse momento de discussão sobre o papel do negro no cinema brasileiro, além da discussão que permeou a última edição do festival.

“É um posicionamento político do festival e das pessoas que, de certa forma, passam por ele e o cercam. Esses temas não podem ficar como discussões de um filme ou demarcadas por um debate específico. Eles precisam ser cotidianos, incorporados em nossa prática de pensar cinema, questionar, fazer curadoria, assistir e avaliar os filmes, seja você espectador, produtor ou jornalista”, observou.

Sobre Darlan Alves Lustosa 8249 Artigos
Darlan é formosense que gosta da escrita e acredita que a política é um meio de transformação da vida das pessoas. Mora em Formosa do Rio Preto, na Bahia, com registro profissional 6978/BA e vive sobretudo para fortalecer a causa e defender direitos.
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