Fragmentos históricos: o potencial de Formosa do Rio Preto na década de 1900

Texto aborda parte da história na primeira década do século XX, com inauguração da navegação fluvial até o São Marcelo em 1908 e passagem de Ruy Barbosa.

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Então governador da Bahia e comitiva na inauguração do trecho de navegação fluvial entre Formosa do Rio Preto ao São Marcelo em 1908 - Foto: Reprodução

O município de Formosa do Rio Preto, na Bahia, teve sua emancipação política reconhecida em 1961, mas a história mostra a importância da região, ainda na década de 1900. Pelo aniversário do maior município do Nordeste brasileiro, o Portal do Cerrado, tenta resgatar um pouco da história, tão negligenciada ao longo do tempo.

Veja algumas publicações:

  1. Emancipação política começou em meados da década de 1950
  2. Formosa do Rio Preto comemora 57 anos de emancipação
  3. Revista de 1908 retrata a ‘Pedra da Balisa’ e parte do território de Formosa do Rio Preto
  4. Do surgimento a emancipação política

Os dados a seguir, são da conferência comemorativa do quadragésimo aniversário da navegação a vapor no Rio Preto. O projeto encampado pelo Governo da Bahia, com a criação da Empresa Viação do São Francisco, no período governamental de José Marcelino Souza (1904-1908) e publicados em livro em 1955, por uma de suas filhas.

No início do século XX, o governo baiano acreditava no potencial econômico do vale do Rio Preto e uma via de integração comercial com o Sul do Piauí, Maranhão e o então leste de Goiás. Na primeira década, o governo criou diversas linhas de navegação no estado. Em 1908, inaugurou a linha de navegação fluvial, até ao povoado de São Marcelo. Antes, em 1905, já havia inaugurado até o arraial de Formosa, acessado os principais porto da época, a exemplo de Juazeiro, ao Norte da Bahia.

A região chamava tanta atenção, que trouxe o governador da época, José Marcelino de Souza, ao São Marcelo, em 9 de fevereiro de 1908. Com ele uma grande comitiva, inclusive a ilustre presença de Ruy Barbosa, conforme notícia em 13 de janeiro, o jornal carioca Correio da Manhã, em sua coluna pelo Telegrapho.

  • Correio da Manhã, Rio de Janeiro, Formosa do Rio Preto, Bahia, Século XX, Década de 1900
  • Século XX, Década de 1900

Era do interesse do Governo da Bahia, a interligação das diversas regiões do estado, e para o período, a maneira mais fácil e barata, seria através dos grandes rios que cortam a Bahia, incluindo o Preto, o Sapão e o Sassafrás.

LEIA MAIS: Portal do Cerrado

A ideia de interligar as regiões da Bahia, começaram no final do século XIX, mostrando à época, existia uma política de governo, mantida por sucessores. Em 1865, o governador, na época chamado de presidente da Província, Manuel Pinto de Souza Dantas, mandou construir um dos primeiros vapores, fazendo sua primeira viagem em 1872, partindo de Juazeiro, chegando até o Norte de Minas Gerais. Em 1894, o governo estabeleceu o tráfego nos rios Corrente e Grande.

A inauguração da navegação pelo Rio Preto, até Formosa, deu-se em 11 de outubro de 1905. Na época, a bordo do vapor Alves Linhares, com desobstrução de 550 km de sua foz até o arraial. Conforme a ata de inauguração, ficou designado que todo dia 27 um vapor partiria de Juazeiro, devendo ancorar no porto de Formosa, todo dia 7, retornando no dia seguinte.

Já em 1906, o engenheiro Apolinário Front, foi designado para estudar a região do Jalapão e dos rios que cortam a região, em especial o Sapão, estudando inclusive a produção de maniçoba ou “quaisquer riquezas de exploração vantajosa, no Oeste e Noroeste do Rio São Francisco.”

Século XX, Década de 1900
Reprodução

Em 14 outubro de 1907 o Jornal de Notícias, publica o seguinte telegrama, dirigido ao capitão-tenente, Cloto Japi-Assu, então Superintendente Geral dos Serviços de Navegação:

Os trabalhos de desobstrução do trecho de Formosa a São Marcelo, estão em grande adiantamento. Os vaus Angico e Capivara, que maiores obstáculos ofereciam à navegação estão resolvidos, tendo profundidade suficiente para passares de vapores, em qualquer tempo. O depósito de carga em São Marcelo teve começo e, com toda atividade, trabalha-se assim na continuação das obras, de modo a estarem prontas em novembro. Viajei até São Marcelo, no vapor Linhares rebocando um batelão carregado de materiais para construção do armazém, estando o Rio Prêto apenas 15 centímetros de enchente. Em vista de tamanho resultado, penso podeis garantir ao dr. Governador que a navegação poderá ser estudada até São Marcelo, quando êle julgar conveniente.

(grafia original)

Arraial de Formosa

“Com relação à Formosa, é um local com cerca de 1500 almas e que prospera a olhos vistos. Mantém grande comércio com Piauí, Jalapão e Norte Goiás e até com Maranhão. O navio que deve chegar amanhã (7/10/1908) sairá daqui completamente carregado de borracha, de mandioca e mangabeira, couros e outras peles, penas de ema, além de algum cereal, que servirá às regiões ribeirinhas do Baixo São Francisco.

Dentro em pouco, nos meses de março a outubro, um só navio não será suficiente ao transporte dos produtos exportados.”

Inauguração em São Marcelo

Em 9 de fevereiro de 1908, o governador inaugura em São Marcelo, antiga Fazenda Santa Maria, a navegação a vapor desde Formosa. O ato vem após missa campal presidida pelo padre Eliseu Cavalcanti, da paróquia de Corrente, no Sul do Piauí.

Foto: Reprodução

No mesmo ano, tem início uma grande briga entre famílias do São Marcelo, com homicídios, arrombamento, saques e incêndios a casas comerciais. As lutas armadas ficaram conhecidas como Tempo do Barulho, com o chamado coronelismo do sertão.

Duas décadas depois, toda região já não apresentava mais a prosperidade vista pelo governo do início do século.

“Tocamos de regresso, e, no dia 30 (de maio de 1930), viemos almoçar em São Marcelo, com três dias completos de viagem…

…Desolação e miséria foi só que encontramos nas casas dos poucos moradores das estradas incultas da direita do Sapão. Não há com quem comerciar. O que a terra pode produzir é devorado pelas capivaras, porcos e veados, ou não vale o frete até Formosa.”

Trecho extraído do livro O Rio São Francisco, de Agenor Augusto de Miranda, via Maria Mercedes Lopes Souza (Marieta).

Sobre Darlan Alves Lustosa 7979 Artigos
Darlan Lustosa é formosense que gosta da escrita e acredita que a política é um meio de transformação da vida das pessoas.Vive e mora em Formosa do Rio Preto, no extremo Oeste da Bahia, com registro profissional 6978/BA e sindicalizado, sobretudo para fortalecer a causa e defender direitos.
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